quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO VIII

(Ficção baseada em factos reais)

Não podia esquecer que o filho de Vicente era praticamente da sua idade (dois anos mais velho do que ela) e tinha muito boa aparência, além de ser educado e bom conversador.

FIM DO.EPISÓDIO VII

EPISÓDIO VIII

Depois de ter feito os seus estudos na capital, Humberto aperfeiçoava agora os seus conhecimentos com explicadores, tendo em vista ir frequentar uma universidade na Inglaterra. Por isso passava grande parte do tempo em casa, o que implicava frequentes encontros com a madrasta, que ele, por graça mas em tom carinhoso, tratava às vezes por “mãezinha”.

Anita não mais voltara a perguntar a Vicente em que pé estava a casa para Humberto. Prometera a si mesma nunca mais tocar no assunto, e aguardar o tempo que fosse necessário até que o marido lhe desse a novidade de que a casa estava pronta.
Mas a cada dia que passava sem que Vicente mencionasse tal coisa, Anita sentia aumentar a decepção em relação ao marido, ao mesmo tempo que arrefecia a pouca afeição que chegara a sentir por ele.

De acordo com os princípios religiosos católicos com que fora educada, Anita continuava a frequentar a Igreja, mantendo o seu relacionamento de amizade com o velho pároco que a baptizara e lhe ministrara todos os outros sacramentos, e com quem conversava longamente.

Vicente não a acompanhava. Concordara em fazer o casamento católico, mas a tanto se resumia a sua ligação à Igreja.
Contudo, agradava-lhe bastante que Anita a frequentasse.
Contribuía com doações de certo vulto para as obras de caridade, mostrando-se receptivo todas as vezes que Anita sugeria convidar o pároco para almoçar ou jantar. Assim, o velho padre tornou-se frequentador assíduo da casa.

Conhecendo-a desde que nascera, o pároco cedo se apercebeu de que Anita não era feliz.
Tentava, disfarçadamente, e torneando o assunto, aflorar os aspectos de que, por vezes, se reveste o casamento.
Anita fingia não perceber, não se atrevendo a confessar-lhe que não era feliz, que nunca amara o marido, e que amava outro homem que jamais esqueceria – Arnaldo.

A amizade entre Anita e o velho pároco era tal que não é de estranhar que tenha sido ele, precisamente, a ouvir, pela primeira vez, Anita pronunciar:
- Padre, estou grávida!
Uma alegria enorme inundou a alma do velho e santo homem.
E só quando se preparava para dar um abraço à sua grande amiga, é que reparou no seu ar desesperado, e nos olhos marejados de lágrimas.

- Mas o que é isso, minha filha? Dás-me uma notícia tão maravilhosa com um ar tão infeliz? E com lágrimas? O que é que se passa?
- Padre, eu não queria um filho. (Não de Vicente…- acrescentou, em pensamento)
- Não digas uma coisa dessas! Nem sequer deves pensar, quanto mais dizer!
Um filho é uma dádiva de Deus.
Nem todas as mulheres recebem a graça de poder ter um filho.
Só tens é que agradecer a Deus por ter-te concedido uma bênção que não tem igual.
Lembra-te sempre disto, minha querida filha, e começa a amar o teu filho desde já.

As sensatas palavras do padre calaram fundo em Anita.
“Sim, um filho é uma bênção de Deus. Não posso esquecer-me disso. Fui muito injusta ao sentir-me triste. Pobre bebé, que não vai ter o pai que eu gostaria de lhe dar” – pensou Anita, recompondo-se.

Foi depois a vez de comunicar aos pais e demais familiares e amigas o seu estado “interessante”.
Todos manifestaram o seu contentamento. A mãe exultou de alegria.
Abraçando efusivamente a filha, já fazia mil e um projectos para o enxoval, o quarto do bebé, a escola que iria frequentar…

Anita conseguiu refrear-lhe um pouco o entusiasmo, lembrando:
-Mãe, faltam mais de sete meses para o meu filho nascer! - e nessa altura apercebeu-se de que sentira orgulho ao pronunciar “meu filho”.
Foi nesse preciso momento que começou a amar o pequenino ser que trazia no ventre.

FIM DO EPISÓDIO VIII

domingo, 25 de janeiro de 2009

PALAVRA E PALAVRÃO

Longe vai o tempo em que palavrão era uma palavra feia, usada apenas por pessoas de condição social mais baixa, as quais não haviam recebido uma educação muito esmerada.
Usava-se, também, em círculos muito fechados, essencialmente masculinos, onde ouvidos femininos não tinham acesso.

No dicionário podíamos encontrar, como significado de palavrão:
- Palavra muito grande
- Obscenidade

Presentemente os dicionários apresentam exactamente a mesma coisa.

É sobre a palavra, com o sentido de “obscenidade”, que me ocorre tecer alguns comentários.

Hoje em dia, anedota, para ter graça, tem que incluir um ou mais palavrões. De contrário está condenada ao fracasso.

Lembro-me dos tempos em que nos reuníamos na casa de um e de outro, e passávamos o serão conversando e contando anedotas que nos provocavam alegres gargalhadas.
Havia, entre nós, um jovem com um jeito especial para o fazer. Era o rei da festa.

Recordo-me, por exemplo, da anedota do menino Pedrinho que, na procissão do Senhor dos Passos, seguia atrás do andor, tocando o seu violino.
O menino Pedrinho tocava muito mal, coitado.
Toda a gente ia farta de ouvir aqueles sons, que feriam os ouvidos e arrepiavam os cabelos!
Era tão grande o incómodo que o próprio Jesus Cristo, arrastando a Sua cruz, saturado com aquela sanfona, lá do alto do andor voltou-se para o menino e disse:
- Ó Pedrinho, e se tu fosses tocar violino para o raio que te parta?!!!

Gargalhada geral.

Hoje, na mesma cena, Jesus Cristo teria dito, no mínimo:
- Ó Pedrinho, e se tu fosses tocar violino para a p. q. t. p?

E só assim a anedota teria alguma graça.

É certo que os tempos mudam, tudo evolui, incluindo a linguagem.
Nos anos 60 havia 300.000 vocábulos na língua portuguesa; presentemente existem mais de 900.000.
Ainda não consegui ler o dicionário todo... Não sei, portanto, se os palavrões estão incluídos nesse número…
Sei é que se caiu num grande exagero do seu uso (e abuso). E penso que “não havia necessidade”…

Há dias ouvi, à porta duma escola, uma garota que aparentava doze ou treze anos, a falar com uma colega que deveria ter a mesma idade.
Em dez palavras que pronunciou, nove eram palavrões, daqueles de “fazer corar um carroceiro”, como antigamente se dizia.

É chocante ouvir estas coisas da boca duma criança.

As crianças aprendem imitando os adultos.
Ainda que, em casa, não sejam usado esse tipo de linguagem, os jovens ouvem-na na escola, na rua, em toda a parte.

Quanto ao que se passa na rua…não há como evitar. Não seria nada prático pôr tampões nos ouvidos das crianças para as proteger.

Nas escolas…os professores nada podem fazer. Estão manietados de pés e mãos.
Se algum se lembra de repreender um aluno cai-lhe em cima o representante da Associação de Pais, e sujeita-se a um processo disciplinar.
As adoráveis criancinhas são intocáveis!

O nosso raio de acção fica, assim, reduzido à nossa casa.
Seguindo o ditado que diz – «casa de pais, escola de filhos» – é aí que a nossa actuação pode e deve ser eficaz.
Não usar palavrões, especialmente em frente das crianças, e repreendê-las quando os pronunciarem, fazendo-as entender que a nossa língua é tão rica que pode perfeitamente dispensá-los.

Talvez assim consigamos contribuir para que a língua portuguesa deixe de ser tão maltratada, e volte a ser tão bela como sempre foi.

Para a malbaratar bem basta o acordo ortográfico que já entrou em vigor, mas que me recuso terminantemente a seguir.
Eu até assinei uma petição para que ele não fosse aprovado…

Também no Brasil o acordo ortográfico não foi muito bem recebido, especialmente nos meios intelectuais.
Veja um parecer, a esse respeito, do poeta/crítico/cronista Edmar Melo.

NOVA REFORMA ORTOGRÁFICA

Não se usa mais acento
No "pára", verbo parar
Pois "para" preposição
Não vai mais lhe atrapalhar
Tudo agora virou "para"
Do jeito que a gente fala
Sem se diferenciar

As palavras terminadas
Em hiato, como "enjôo"
Não vão mais ter circunflexo
Não se acentua mais "vôo".
Agora voo atrasado
Não é mais acentuado
Nem que você sinta enjoo

Não tem mais acento agudo
Quando se escreve "feiúra".
Passaram quinhentos anos
Pra fazer essa frescura.
E o português lusitano
Só descobriu este ano
Que esse mal não tem cura.

O País tá precisando
É de reforma agrária
É de reforma política
De reforma tributária
Mexer na ortografia
Por causa da geografia
Não é coisa prioritária

Pensei cá com meus botões:
A reforma é malandragem
Tem interesses ocultos
Alguém levando vantagem
Esse tira e põe acento
É um negócio nojento
Tá virando sacanagem.

Edmar Melo

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO VII

(Ficção baseada em factos reais)

Com um ar ligeiramente surpreso, Humberto respondeu:
- Falaste nisso ao meu pai? E rapidamente acrescentou – preciso ver…já
tinha combinado com os meus amigos…

FIM DO.EPISÓDIO VI

EPISÓDIO VII

Ao reparar no ar decepcionado de Anita, pôs-lhe uma mão no ombro, dizendo:
-Não fiques triste, “mãezinha”. Eu vou desmarcar com os meus amigos, e estarei presente no teu jantar. Mas não te esqueças de avisar o meu pai, por favor. Sabes que ele não gosta nada de surpresas…
Embora estranhando a recomendação do enteado, Anita depressa esqueceu o assunto, de tal modo se sentia alegre e até certo ponto feliz, como há bastante tempo não se sentia.
A perspectiva de rever as amigas e com elas passar algumas horas era-lhe muito agradável.

A tarde passou rapidamente nos preparativos para o jantar, enfeitar a mesa e vigiar a cozinha, dando um retoque aqui e acolá.
Por fim foi tratar da sua toilette, pondo-se bonita para receber as amigas.
A sua boa disposição era tão grande que, quando o marido chegou, o acolheu com um largo sorriso, o que raramente acontecia.

De facto, desde o dia em que Anita ficou noiva de Vicente, não mais se lhe viu um sorriso aberto no rosto.
Vicente notou, com agrado, a alegria de sua mulher, quando a encontrou no quarto perfumando-se com água-de-colónia.

Galantemente ofereceu-lhe o braço, conduzindo-a à sala, onde já se encontrava Humberto, elegantemente vestido para o evento.
Ao vê-lo, Vicente franziu o sobrolho, indagando:
- Onde vais, vestido dessa maneira?
- A lado nenhum. Apenas vou jantar aqui em casa, e penso que a minha querida madrasta gostará de me ver assim vestido para receber as suas amigas…
- O quê? Tu vais jantar em casa? Não tinhas já combinado jantar com os teus amigos? – perguntou Vicente, num tom ligeiramente ríspido, que tentou disfarçar, mas não passou despercebido a Anita.
- Tinha, sim, mas desmarquei, a pedido da tua mulher. E, dirigindo-se à madrasta:
- Anita, esqueceste-te de avisar o meu pai de que me tinhas convidado para vos fazer companhia…
- De facto não me lembrei. Mas não pensei que isso fosse importante…Também não avisei o teu pai de quais as amigas que ia convidar, e ele não se mostrou interessado em sabê-lo…pelo menos não me perguntou.
Voltando-se para o marido, indagou:
- Há algum problema em que o Humberto jante connosco?
Rapidamente, Vicente disfarçou o mau humor, compôs um belo sorriso, e sossegou Anita, assegurando-lhe:
- Não, claro que não, apenas fui apanhado de surpresa. Sabes que não gosto de surpresas…

O jantar decorreu alegremente. Anita parecia ter recuperado o gosto pela vida. À despedida ela e as amigas combinaram encontrar-se mais vezes.

Os dias foram passando, Anita governando a sua casa, Vicente tratando dos seus negócios, e Humberto permanecendo na casa.
Apesar de simpatizar com o enteado, que era atencioso e respeitador, Anita não se sentia à vontade na sua própria casa, tendo que conviver diariamente com ele.

Quando vivia em casa de seus pais, ao levantar-se, costumava pôr um robe sobre a camisa de noite, para ir tomar o pequeno-almoço, e só mais tarde ia tomar banho e vestir-se.
Depois que casara e viera para a sua casa na cidade, após a lua-de-mel, nos primeiros dias procedera do mesmo modo.
Porém, em breve alterou os seus hábitos, ao verificar que, sempre que entrava na sala para tomar o pequeno-almoço, Humberto já lá se encontrava, aguardando-a para lhe fazer companhia à refeição.

Com o passar dos dias, e não havendo alteração nesta situação, Anita sentia aumentar em si o desconforto.
Não podia esquecer que o filho de Vicente era praticamente da sua idade (dois anos mais velho do que ela) e tinha muito boa aparência, além de ser educado e bom conversador.

FIM DO.EPISÓDIO VII

domingo, 18 de janeiro de 2009

POESIA EM TEMPO DE GUERRA

Costumo dizer que cada um deve lutar com as armas de que dispõe.
Quem faz das letras ofício é delas que deve servir-se para defender os seus ideais, e expressar a sua revolta sempre que ocorram factos contrários aos seus sentimentos.

Tenho recebido, através de amigos ou directamente dos próprios autores, muitos poemas repudiando a actual guerra que se vive no Médio Oriente.

De entre vários escolhi, para partilhar convosco, dois poemas de dois poetas brasileiros.
O primeiro, do poeta J.J.Oliveira Gonçalves, que assina como JJotaPoeta.


A Guerra!

A guerra dói... destrói... avilta... mata!
E ao próprio Deus inflige Sofrimento!
No coração da mãe: luto, lamento!
Que à Alma materna acerba Dor maltrata!

A guerra afia as garras... e sua boca
Escancara e devora a Humanidade!
Nódoa, crime, ambição, calamidade!
Mata Amores e Sonhos – fera e louca!

E vai, segue o bicho-homem – deletério
Edificando o Caos dentre os destroços:
Rega fantasmas a sangue! Colhe ossos!

Vertiginoso o mundo – fria Babel
Caminha para o Nada! E em seu papel
A guerra faz da Terra cemitério!

JJotaPoeta


O segundo poema é do meu grande amigo Humberto Rodrigues Neto, que assina como Humberto-Poeta.


GAZA! QUEM É O CULPADO?

Culpados são os padres e pastores
e rabinos, também, e aiatolás
pregando deuses maus e vingadores,
a fomentar o ódio em vez da paz!

Ao se suporem do universo o centro,
fazem do engodo seus apostolados,
sempre a empurrar-nos, tímpanos a dentro,
falsos mitos de credos superados!

Da Igreja nunca mais será esquecida
a sua mais hórrida e venal tragédia:
os mártires aos quais ceifou a vida
nos fogareiros vis da idade média!

Protestantes, judeus e muçulmanos
sofreram as torturas mais horríveis,
enquanto os cardeais, nédios e ufanos,
às súplicas sorriam-se impassíveis!


Aos rabinos, versados no Talmude,
do qual supõem ter desvendado os lacres,
pouco importa se a mosaica juventude
se dê à carnificina dos massacres!

Aos muçulmanos a morte é um pretexto
que afirmam registrado no Alcorão!
Mentira, pois Alá, em nenhum texto,
pede a alguém p’ra matar um pobre irmão!

Toda essa mocidade promissora
que Deus fadou aos mais fraternos atos,
fica à mercê da sanha destruidora
dessa grei de assassinos e insensatos!

Assim age o que engendra atrocidades
e instrumento se faz de tal sandice:
mascara os livros sacros de inverdades
dizendo coisas que Deus nunca disse!

Mas quem da Bíblia e do Alcorão faz messes
das mais diabólicas cavilações,
precisa muito mais das nossas preces
que das nossas acerbas maldições!

Humberto-Poeta

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ANITA

ANITA – EPISÓDIO VI

(Ficção baseada em factos reais)


Mal deu dois passos no corredor, Anita estacou de repente, com uma expressão de espanto e indignação estampada no rosto.

FIM DO EPISÓDIO V

EPISÓDIO VI

Ao fundo do corredor, sorridente, aguardava-a o filho de Vicente.
Pelas roupas confortáveis e informais que usava, Anita apercebeu-se, de imediato, que Humberto vivia ainda naquela casa.

De facto, desde que se casara, Anita não voltara a perguntar a Vicente se já arranjara casa para o filho morar.
Sem saber explicar bem porquê, mas talvez devido ao silêncio do marido, convencera-se que o assunto estava arrumado, e Humberto estaria a viver na sua nova casa.
Por isso o seu espanto foi grande ao vê-lo, ao mesmo tempo que sentia uma enorme raiva crescer dentro de si.
Considerava que Vicente fora desleal não a informando de que iria ter que conviver com Humberto dentro da mesma casa.

Dirigiu-se ao enteado, que a recebia de braços abertos.
Não conseguiu disfarçar uma ligeira frieza ao deixar-se abraçar, considerando, contudo, que Humberto não tinha culpa alguma desta desagradável situação.

Quando se encontrou a sós com o marido, Anita perguntou-lhe, friamente:
- Foi só desta vez, ou é costume teu não cumprires o prometido?
Vicente fingiu não perceber:
- Não sei a que te referes. Toda a gente sabe que eu honro sempre os meus compromissos.
- Nos negócios, talvez. Não duvido. Mas no que me diz respeito não posso dizer o mesmo. Ou será que te esqueceste da única exigência que eu fiz antes de nos casarmos?
- Exigência, minha querida??? Mas quando é que tu precisas exigir seja o que for? Sabes muito bem que tudo o que desejares apenas tens que o manifestar. Eu vivo para te satisfazer.

Anita engoliu em seco. Não estava com disposição para discutir sentimentos.
- O que está aqui em causa, agora, não são os meus desejos nem os teus sentimentos, mas a promessa que me fizeste de que, quando eu viesse para esta casa, o Humberto já cá não estaria. E ele ainda cá está!

Vicente abandonou o ar risonho e benevolente com que estivera escutando Anita:
- Tens toda a razão, minha querida. De facto, falhei na promessa que te fiz. Mas, acredita, não foi por falta de esforço em procurar uma casa para o meu filho. É que não consegui encontrar nenhuma casa para alugar.
Mas agora vou fazer-te outra promessa, e essa será cumprida:
-Amanhã mesmo vou falar com o empreiteiro e juntos procuraremos um terreno para, rapidamente, construir uma pequena casa para o Humberto.
- Assim espero – respondeu Anita, dando o assunto por encerrado.

Nos dias que se seguiram, Anita fez a vida normal de uma recém-casada: Começou por receber na sua casa as pessoas mais importantes da ilha, que haviam comparecido ao seu casamento ofertando-lhe valiosas prendas.
A esses jantares estavam presentes apenas os convidados e os donos da casa. Humberto nunca compareceu..
Anita manifestou a sua estranheza ao marido, que lhe respondeu:
- Humberto é bastante tímido com pessoas estranhas, preferiu ir jantar com os amigos – e mudou rapidamente de assunto.
Anita não insistiu, embora não ficasse muito convencida.

Depois de cumpridos todos estes deveres sociais, chegou a vez de convidar as suas amigas, que na realidade não eram muitas. Eram apenas quatro amigas que conservara da infância, já que a juventude fora passada, a maior parte do tempo, na capital, a estudar.
Pensou que, depois de ter organizado todos aqueles jantares apenas para cumprir um dever social, agora, finalmente, ia poder reunir-se com as suas amigas, e passar um serão divertido na sua companhia.

Três das suas amigas eram casadas, uma era solteira. Anita lembrou-se de lhe arranjar companhia. Chamou Humberto e disse-lhe:
- Humberto, hoje vamos ter cá em casa, para o jantar, as minhas amigas. Gostaria muito que nos fizesses companhia, jantando connosco.
Com um ar ligeiramente surpreso, Humberto respondeu:
- Falaste nisso ao meu pai? E rapidamente acrescentou – preciso ver…já tinha combinado com os meus amigos…

FIM DO EPISÓDIO VI

domingo, 11 de janeiro de 2009

LEMBRANDO ANOS PASSADOS

No início dos anos é normal e muito vulgar fazer análises dos acontecimentos do ano anterior.
Assim aconteceu em 2008, 2007…e agora, no início de 2009.
Muitos recordaram o pior do ano anterior; outras pessoas preferiram lembrar as coisas boas – louvável e, por certo, edificante.
Eu prefiro lembrar o que foi lembrado o ano passado, ou seja, fazer uma pequena viagem na máquina do tempo.
É assim, nessa fabulosa máquina, que chegamos a Pyongyang, Coreia do Norte, nos anos 80/90 do século passado.

Quem diria que um país tão pequenino que não produz praticamente nada; durante o século XX foi invadido, destroçado, escravizado e incorporado pelo Japão; depois, fortemente bombardeado pelos Estados Unidos, e finalmente dividido em duas partes, cuja parte norte tem vivido sob um regime totalitário de fazer inveja a qualquer outro regime totalitário, e que vive às portas da fome…conseguiria fazer o Japão, a Inglaterra e os Estados Unidos dançar a música que ele toca?

Há quem pense que Kim Jong Il, líder norte coreano, é maluco – afinal, o país tem muito pouco poder de negociação, e está praticamente isolado do mundo.
Depois que Bush colocou a Coreia do Norte na lista dos países que compõem o “eixo do mal”, qualquer líder que não fosse louco tentaria não atrair as atenções da América. Kim Jong Il, pelo contrário, insinuou ter começado o seu programa nuclear, e até mesmo a possibilidade de estar com a bomba atómica a caminho.

Assim se falava em 2003.

Kim Jong Il, nascido a 16 de Fevereiro de 1942, na União Soviética, é o líder da República Popular Democrática da Coreia do Norte.
É presidente da Comissão Nacional de Defesa e secretário-geral do Partido dos Trabalhadores Coreano.


Exerce poderes ditatoriais, e o culto da sua imagem está presente em quase todas as esferas da vida quotidiana norte-coreana.

De tanto o ouvirem repetir, as pessoas são levadas a acreditar que o seu país é o “Paraíso na Terra”.

Quem não se encaixa no ideal de Kim Jong Il daquilo que é um cidadão saudável e vital, não merece viver. Pessoas com deficiência, ou apenas baixas, são consideradas sub-humanas.
Depois destes breves traços sobre o líder da Coreia do Norte, vamos recordar um acontecimento passado nos atrás referidos anos 80/90, precisamente em 1989.

Durante os preparativos para o Festival Mundial da Juventude Kim Jong Il encorajou o país a fazer melhor do que, no ano anterior, fizera a Coreia do Sul, aquando dos Jogos Olímpicos de Verão.
Para o efeito foram tomadas várias medidas, entre as quais a que vou aqui relembrar.

Pionguiangue na actualidade

Pyongyang, (aportuguesado para Pionguiangue), capital da Coreia do Norte, deveria ser purificada de todas as pessoas deficientes.
Seis meses antes do Festival, agentes do governo reuniram todos os deficientes residentes na capital, e enviou-os para aldeias longínquas.
Nesse período, um dia de Maio de 1989, um médico, que preferiu não referir o seu nome, foi incumbido, pelo Partido Comunista, de localizar os indivíduos mais baixos, residentes na capital. Foram postos a circular, pelos representantes locais do Partido, folhetos de propaganda, que informavam que o estado tinha descoberto um medicamento para aumentar a altura das pessoas.
Este medicamente seria fornecido gratuitamente a quem quisesse submeter-se ao novo tratamento.
Só em dois dias juntaram-se milhares de pessoas interessadas.
O médico escolheu os mais baixos, e explicou à multidão que o medicamento fazia mais efeito quando aplicado regularmente, e num ambiente propício.
Os candidatos, sem a mínima suspeita, embarcaram em dois navios, mulheres num, homens noutro, e foram enviados para duas ilhas desertas, com o intuito de que os seus genes “de baixo nível”não se perpetuassem por novas gerações.
Abandonados à sua sorte, sem quaisquer provisões ou alimentos, nenhum deles conseguiu regressar a casa.

Esta história foi lembrada o ano passado, em Agosto ou Setembro de 2008, numa revista de que não recordo o nome. Li-a, em Novembro, numa das longas esperas numa sala (de espera) dum consultório médico. Tomei apontamentos, e agora lembrei-me de a partilhar convosco.

Na altura não pude deixar de fazer a analogia entre Kim Jong Il e Adolf Hitler: um, condenou milhares de pessoas à morte, acenando-lhes com um novo medicamento que os faria crescer;


o outro oferecendo um bocado de sabão antes de entrarem no “banho”, de cujo chuveiro saía, em vez de água, um gás letal.


Reflexão:
Quando é que o Homem vai aprender com os erros cometidos por outro Homem?


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

MENSAGEM DE ANO NOVO

Sugiro, para começar, que veja este vídeo. Estou convencida de que vai gostar.

Mas se não estiver interessada(o), é só passar adiante.

Happy new year



Depois destes belos votos de Feliz Ano Novo, (para quem viu o vídeo) vou propor-vos começar o ano de 2009 reflectindo sobre um tema que considero de extrema importância.

Peço desculpa por se tratar de um post anormalmente extenso, embora isso se deva especialmente às fotos que achei por bem incluir.

Aproveito a oportunidade para comunicar que estarei ausente da blogosfera por uma ou duas semanas.
Sinto necessidade de fazer uma introspecção, uma espécie de retiro, (chamem-lhe o que quiserem); de vez em quando precisamos rever a nossa maneira de estar na vida, analisar com calma os nossos procedimentos, rever certas atitudes, e, eventualmente alterar os nossos pontos de vista e consequentes actos.

Iniciemos o Ano de 2009 meditando sobre o assunto que aqui vos trago, desejando que esta reflexão funcione como um voto que todos, de mãos dadas, iremos fazer.






















Um Ano muito feliz para todos.
Até breve.
Mariazita