quinta-feira, 31 de julho de 2008

UM CHEIRINHO DE ALECRIM

Sentem o perfume no ar? É o cheiro do alecrim!
Será mesmo alecrim? Ou será rosmaninho?
Por vezes gera-se uma certa confusão, pensando-se que se trata apenas de uma planta a que se pode dar os dois nomes.
Na realidade são duas plantas distintas, que pertencem à mesma família.



Rosmaninho Alecrim

Em Portugal conhecem-se cinco variedades dessa mesma família, as Lamiáceas ou Labiadas.

Todas exalam um forte e agradável odor. Por isso são muito usadas em perfumaria.
As abelhas sentem uma forte atracção pelas suas flores, o que leva alguns apicultores a plantar rosmaninho perto das colmeias. Assim surge o tão famoso mel de rosmaninho, com um sabor especial que lhe é conferido pelo pólen dessas flores.
Alecrim e rosmaninho são muito utilizados na culinária, quer como tempero, seco ou fresco, ou colocado sobre o carvão, quando se fazem assados na brasa. A carne fica com um sabor especial, e o ambiente agradavelmente perfumado.
São também usados na medicina popular para combater a febre, a tosse e o mal estar do estômago, na forma de infusão, tomada após as refeições.
São-lhes também atribuídas propriedades anti-sépticas, analgésicas, anti-depressivas e anti-reumáticas.
Conta-se que Elizabeth da Hungria recebeu, aos 72 anos, a receita de um anjo (supõe-se ter sido um monge) quando estava paralítica e sofria de gota.
Com o uso do preparado de alecrim recobrou a saúde, a alegria e a beleza.
O rei da Polónia chegou a pedi-la em casamento.

O alecrim é uma planta muito ligada ao misticismo.
Desde a antiguidade é queimado nos templos e igrejas, como incenso, e o seu óleo ainda hoje é utilizado para unção nalgumas religiões.
Gregos e romanos consideravam-no uma planta sagrada.

Em Portugal. No tempo em que as procissões se realizavam com grande esplendor, espalhava-se alecrim e rosmaninho pelas ruas por onde os andores iriam passar.
António Lopes Ribeiro refere-o nos versos de “Procissão”, imortalizados por João Villaret.

Tocam os sinos na torre da Igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia, que Deus a proteja!
Vai passar a procissão.

Já em 1737 o dramaturgo português António José da Silva escreveu «Guerras do alecrim e mangerona», onde as heroínas, disfarçadas, usavam ramos de alecrim e mangerona (uma espécie de manjericão) , para serem reconhecidas pelos seus amados.
Isto comprova que, também em Portugal, o alecrim sempre foi muito apreciado.

Como gosto muito de lendas - e a prová-lo estão algumas que já aqui publiquei - não resisto à tentação de vos contar uma muito antiga, que ouvi nos meus tempos de “menina e moça”, e que ainda guardo na memória.

Quando Maria e José fugiam com o Menino Jesus a caminho do Egipto, as flores que havia à beira do caminho iam-se abrindo à sua passagem, para os saudar.
O lilás, orgulhoso da sua beleza e perfume, erguia-se bem alto.
O lírio, mais modesto de porte, mas de igual beleza, abria os cálices, contribuindo, assim, para amenizar a jornada dos caminhantes.
O alecrim, sem flores nem beleza, entristeceu, por não ter nada que pudesse oferecer ao Menino.
Depois de uma boa caminhada, encontrando-se Maria já cansada, resolveram parar junto a um rio.
O Menino adormeceu, e Maria aproveitou para lavar as suas roupinhas. Em seguida procurou um lugar para estendê-las.
Os lilases eram muito altos, os lírios muito frágeis…
Foi então que reparou no modesto alecrim, que crescia a seus pés, e nele colocou as roupinhas.
O alecrim suspirou de alegria por, finalmente, poder ser útil ao Menino. E enquanto susteve as roupinhas redobrou de esforços para activar o seu perfume e com ele as impregnar.
Quando Maria as foi apanhar disse:
“Obrigada, gentil alecrim. Daqui por diante cobrir-te-ás de flores azuis, da cor do manto que estou usando.
E, em sinal de agradecimento, não apenas as flores mas também os raminhos que sustentaram as roupas de Jesus, passarão a ser perfumadas.
Abençoo as folhas, o caule e as flores, que, a partir de agora, terão aroma de santidade e espalharão alegria”

É por isso, diz-se, que o alecrim é, todo ele, perfumado, e não apenas as suas flores.

Deixo-vos com um vídeo de que gosto imenso, que fala de alecrim.

“Procissão” por João Villaret




domingo, 27 de julho de 2008

FALAR SÓ POR FALAR OU “DEITAR CONVERSA FORA”

Hoje não me apetece escrever!
Por ser Domingo, talvez…
Não sei onde fui buscar a ideia peregrina de fazer postagens ao Domingo. À Quinta-feira ainda se compreende: estamos a meio da semana, um pouco saturados da rotina diária, falta só um dia para o início do fim de semana… e pensamos “vamos lá fazer uma postagenzita”!
Mas ao Domingo?!...Precisamente ao Domingo, dia de descanso?!...

Na verdade, nem sempre o dia de descanso foi ao Domingo.
Em tempos longínquos o dia dedicado ao descanso era o Sábado, o sétimo dia – “E ao sétimo dia descansou”.
Há quem defenda que a mudança se deve à Igreja Católica:

“…O comentário acima, de um sacerdote católico, é mais uma confirmação de que foi a Igreja Católica que mudou o quarto mandamento da Lei de Deus, que prescreve o descanso no sétimo dia, para o descanso dominical…
…a intenção do Vaticano de promover o descanso dominical para toda a sociedade, porque é o sinal da sua autoridade, e quando todo o mundo cristão estiver praticando essa doutrina, o Vaticano terá alcançado o seu grande objectivo, que é recuperar a supremacia política mundial…
…de acordo com o Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, o bispo Inácio de Antioquia, por volta de 130 d.C., escreveu uma carta aos fiéis de Filadélfia com um propósito específico…de facto, para provar que o sábado devia ser abolido em favor do domingo, Inácio de Antíqua não podia valer-se de nenhum testemunho escriturístico. O único argumento era que o domingo era o dia da ressurreição de Jesus.”

Estes excertos vêm na sequência de um longo texto que não vou aqui transcrever. Duvido que algum de vós tivesse paciência para o ler. Eu li, mas porque sou maníaca da leitura. À conta disso já tenho lido, com muito esforço, alguns livros que não me agradam. Mas…comecei, tenho que ir até ao fim!

Deva-se a quem se dever, o facto é que hoje é dia de descanso!
E como não me apetece escrever, vou apenas informar, (a quem não sabe) e lembrar (aos que souberam) que ontem foi o Dia dos Avós.

Os Padroeiros dos Avós
Comemora-se o Dia dos Avós em 26 de Julho, e esse dia foi escolhido para a comemoração porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. Século I a.C. - Conta a história que Ana e seu marido, Joaquim, viviam em Nazaré e não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que o Senhor lhes enviasse uma criança. Apesar da idade avançada do casal, um anjo do Senhor apareceu e comunicou que Ana estava grávida, e eles tiveram a graça de ter uma menina abençoada a quem baptizaram de Maria. Santa Ana morreu quando a menina tinha apenas 3 anos. Devido a sua história, Santa Ana é considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos que desejam ter filhos. Maria cresceu conhecendo e amando a Deus e foi por Ele a escolhida para ser Mãe de Seu Filho. São Joaquim e Santa Ana são os padroeiros dos avós.


Recebi dos meus netos um quadrinho, com uma bela moldura, onde consta, num tipo de letra muito bonito que não posso aqui reproduzir, estas deliciosas frases:

• OS AVÓS

• Os Avós são um Avô e uma Avó
• Os Avós têm sempre tempo para fazer tudo aos netos
• Os Avós gostam muito de passear devagar, devagarinho
• Os Avós nunca têm pressa para nada, são sempre mais velhinhos e
gordinhos

• Os Avós sabem sempre dar aquilo que os netos querem
• Os Avós quando se zangam fazem-no sempre a sorrir
• Os Avós, quando contam histórias, nunca saltam bocados, e não se
importam de as repetir vezes sem conta

• Os Avós “estragam”, os Pais educam.

VIVAM OS AVÓS

Deixo-vos, até à próxima Quinta Feira, com um lindo presente.
Está no post seguinte, com o título “Casa de Vó”.
Penso que vão gostar.

CASA DE VÓ

CASA DE VÓ

Casa de Vó é o lugar mais doce do mundo!



É onde até o limão é doce, e qualquer doce fica muito mais doce.
Há sempre rocambole fofo, coberto de açúcar, em cima da geladeira.
E dentro? Nem se fala!...
Há sonhos de verdade, cobertos de canela.
Há biscoitos quentinhos acabados de sair.
Há suspiros dourados e beijinhos doces.
E a melhor, a mais limpinha, a mais gostosa cama do mundo.
Há esconderijos segredáveis e mapas de tesouro.
Há castelos, fadas, viagens espaciais, reis, princesas e super heróis.
Há risos, muitos risos de sobremesa nas mesas de domingo.



Na casa de Vó as coisas são da altura da gente e tudo está ao alcance das mãos.
Nada é cheio de não – me – toques.
Tudo é à prova de neto!
Até a guerra de travesseiros vem, mas significa paz e alegria.
Na casa da vovó dá vontade de correr e brincar o resto da vida sem parar nunca.
Pois trincos não tem, fechaduras também não.
Casa de Vó tem é muitos braços todos abertos a qualquer hora.
P’ra casa de Vó nunca precisa avisar que vai, é só chegar.
Mesa de casa de Vó vive pronta!
Com toalha bem lavável, sem enfeites caros e novos; resistentes, isso sim.
E tudo funciona melhor na casa de Vó.
As paredes amortecem os tombos.
O chão é menos duro.
O fogão tem mais que seis bocas, todas acesas!
A mesa, como tem pernas…
As cadeiras, mas que dois braços aconchegando…
E Vó, sempre, é toda ouvidos!
Caderno de receita de Vó, então, é livro cobiçado, já esgotado.
Todos querem os segredos dos cozidos e dos assados, mas ninguém consegue jamais fazer um igual.
Porque o jeito de escrever, as páginas amarelas e as gotinhas de gordura não se fizeram em um dia.
Foram precisos muitos dias de festa e vontade de agradar.
Lamber os dedos pode, mas só na casa de Vó.
Raspas de panela tem sempre, e, o pior, tem fila também.
Se escuta sempre: “Eu pedi primeiro!”.
Quase toda Vó tem cadeira de balanço, um chinelo jeitoso, uma caixinha com bilhetes, lencinhos e papéis amarelados.
Gaveta de Vó, então, é uma festa!
De vez em quando toda Vó dá um suspiro bem fundo, porque tem coisas demais para se lembrar, sentindo saudades.
Há coisas que só o amor de Vó faz.
Machucados, por exemplo, são curados com dengo e muitos, muitos beijos.



Dinheiro de Vó rende…
Pensando bem é o único dinheiro que rende.
E costura que Vó faz, então?
Chega a vestir três gerações, até.
As histórias de Vó, as brincadeiras e as cantigas de ninar, só ela conhece, mais ninguém.
E o sono vem cheio de sonhos bons, quando a Vó está por perto.
Porque só cheirinho de Vó é já uma delícia!
O colo é tão gostoso e a pele tão macia que ficam na lembrança da gente p’ro resto da vida.
O assunto não tem fim na casa de Vó.
Ninguém perde o fio da meada, pois é tecido com muito interesse em escutar cada graça, cada novidade, cada descoberta.
Há tanto caso engraçado, e histórias p’ra se ouvir, que ver televisão é perder tempo…
O relógio é sempre adiantado para ninguém perder a hora.
Existe na casa de Vó a mágica do tempo, ele obedece, vai e volta, é só querer.
E a gente é o que quer ser.
Cresce, se quiser crescer.
A casa de Vó tem o maior espaço do mundo, mesmo que não tenha espaço nenhum.
Porque o espaço maior ficou inventado pela liberdade de rir, de correr e de gritar.
Espaço infinito que é do tamanho do coração que toda Vó tem.



Autoria - Guiomar Paiva Brandão, no livro “Casa de Vó”

quinta-feira, 24 de julho de 2008

MAIS UMA ESTRELA SE APAGOU

Desapareceu mais um astro do firmamento cinematográfico – Mel Ferrer.
O falecimento ocorreu no passado dia 2 de Junho, em Santa Bárbara, Califórnia, USA.



De acordo com o que foi noticiado nos Estados Unidos, o actor, de 90 anos de idade, encontrava-se rodeado de familiares e amigos. Terminou os seus dias em paz.
Os mais jovens, provavelmente, não conhecem nem o nome, nunca ouviram falar. Os menos jovens de idade, nos quais me incluo, lembram, certamente, o actor.
Na realidade, Mel Ferrer tornou-se conhecido especialmente como actor. Protagonizou mais de cem filmes ao longo da sua carreira, o último dos quais em 1998.
Actor principal em filmes famosos como Scaramouche, Lili, O Dia Mais Longo, o que o tornou mais conhecido e famoso foi, sem dúvida, o grandioso “Guerra e Paz”, realizado em 1956.





Como acontece com um grande número de pessoas, também Mel Ferrer não realizou o sonho da sua vida - exercer a profissão de que mais gostava – realizador de cinema.
Ainda fez uma incursão nesse campo, realizando alguns filmes. Mas o seu destino era ser actor. Os grandes cineastas requisitavam-no, os seus filmes garantiam sucesso de bilh eteira, e assim acabou por abandonar definitivamente o campo da realização.
Durante as gravações de “Os cavaleiros da Távola Redonda”, em Londres, conheceu a lindíssima Haudrey Hepburn,



com quem se casou em 1954, na cidade de Lausanne, Suíça.




O casamento durou 14 anos, e terminou em 1964.

Homem discreto, sempre pautou a sua vida por uma atitude correcta. Nunca se lhe conheceram escândalos, tão comuns no meio cinematográfico, e a que muitos actores e actrizes devem, em parte, a sua fama.

Partiu um grande actor e, tanto quanto se sabe, um homem de bem.
Por isso lhe presto, aqui, esta singela homenagem.




domingo, 20 de julho de 2008

A FORÇA DOS NOSSOS PÉS

Nasce um filho!
Pequenino, indefeso, frágil, em completa dependência.
É o orgulho dos pais.
Rodeando-o do maior carinho, ensinam-lhe os primeiros passos, as primeiras palavras, acompanham as primeiras letras.
Em breve começam a arquitectar planos para o seu futuro: o curso que irá seguir, a profissão a exercer, uma família a formar.
Porque os pais querem ter netos, a continuação do seu nome, do seu sangue, da sua raça!
Embalados pelo sonho, nem reparam que o filho cresceu, se fez homem; que tem que viver a sua própria vida que nem sempre corresponde à que os pais idealizaram.

Podemos viver PARA os nossos filhos, mas não podemos viver POR eles.

Veja este exemplo:

Desde o dia em que nasceste, eu criei a ilusão, dentro de mim, de que poderia caminhar por ti.
Imaginei que colocaria os teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranquilos e seguros.
Dessa maneira, tu nunca feririas os teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro, e jamais te cansarias da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar.
Isso seria eternamente minha responsabilidade.



E foi assim durante um bom tempo - caminhei por ti, para ti.

De repente, o tempo veio avisar-me, bruscamente, que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias.
Os teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus! Assim, quando eu menos esperava, eles escorregaram e alcançaram o solo.

Hoje sou obrigada a vê-los trilhar caminhos aos quais os meus jamais os levariam; ainda tento detê-los, insistentemente, mas só raríssimas vezes o consigo.

Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus.
E em certos momentos os teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los.

Actualmente, assisto aos teus tropeços, sempre pronta para levantar-te das tuas quedas.

Por vezes, tu estendes-me as mãos em busca de socorro; outras, mesmo estando estirado no chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho, por puro orgulho, ou para me provar que já és capaz de erguer-te depois das quedas, e curar-te das tuas próprias feridas.
Assim vamos vivendo.

Sinto uma saudade imensa daquele tempo em que precisavas de mim para conduzir-te, pois era bem mais fácil suportar o teu peso sobre os meus pés do que sobre o meu coração.
No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia.

Percebo, finalmente, que houve um momento em que tu precisaste mesmo desbravar os teus caminhos independente de mim...

Como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus - os dos teus filhos.
Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás, porque plantei no teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso - o Amor!


Já em meados do século passadoJosé Régio declarava:
- Dizem-me “Vem por aqui”
- Mas eu respondo “Sei que não vou por aí”


João Villaret :: Cântico Negro :: José Régio


quinta-feira, 17 de julho de 2008

A PEQUENA ALMA E O SOL

Hesitei muito em colocar aqui este texto, que recebi por email há três ou quatro anos. Guardei-o por considerá-lo muito interessante.
A minha hesitação deve-se ao facto de, aparentemente, poder ser considerado de cariz místico/religioso, o que não se enquadra na linha directória dos posts que constam deste blogue.


Penso, no entanto, que é um texto de grande profundidade, que vale a pena conhecer.
Quem quiser abstrair-se desse aspecto místico/religioso pode interpretá-lo como uma conversa entre pai e filha, uma apologia à Amizade desinteressada, o evidenciar dos contrastes da vida, etc.
O texto é bastante longo, mas seria um crime não o transcrever na íntegra.
O que me fez recordar este texto, há tanto tempo guardado, foi um comentário posto neste blog, ao post “Um bom conselho”



E , finalmente, o texto

A PEQUENA ALMA E O SOL
Neale Donald Walsch
( Autor de «Conversas com Deus» )

Era uma vez, em tempo nenhum, uma Pequena Alma que disse a Deus:
- Eu sei quem sou!
E Deus disse:
- Que bom! Quem és tu?
E a Pequena Alma gritou:
- Eu sou Luz
E Deus sorriu.
- É isso mesmo! - exclamou Deus. Tu és Luz!
A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do Reino deveriam descobrir.
- Uauu, isto é mesmo bom! - disse a Pequena Alma.
Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. A pequena Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. Então foi ter com Deus ( o que não é má ideia para qualquer alma que queira ser Quem Realmente É ) e disse:
- Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?
E Deus disse:
- Quer dizer que queres ser Quem já És?
- Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a Luz! - respondeu a pequena Alma.
- Mas tu já és Luz - repetiu Deus, sorrindo outra vez.
- Sim, mas quero senti-lo! - gritou a Pequena Alma.
- Bem, acho que já era de esperar. Tu sempre foste aventureira - disse Deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou.
- Há só uma coisa...
- O quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te como Quem És, porque não há nada que tu não sejas.
- Hã? - disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.
- Pensa assim: tu és como uma vela ao Sol. Estás lá, sem dúvida. Tu e mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol não seria o Sol sem vocês. “Não seria um sol sem uma das suas velas... e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no entanto, como podes conhecer-te como a Luz, quando estás no meio da Luz? - eis a questão”.
- Bem, tu és Deus. Pensa em alguma coisa! - disse a Pequena Alma, mais animada.
Deus sorriu novamente.
- Já pensei. Já que não podes ver-te como a Luz quando estás na Luz, vamos rodear-te de escuridão - disse Deus.
- O que é a escuridão? perguntou a Pequena Alma.
- É aquilo que tu não és - replicou Deus.
- Eu vou ter medo do escuro? - choramingou a Pequena Alma.
- Só se o escolheres. Na verdade não há nada de que devas ter medo, a não ser que assim o decidas. Porque estamos a inventar tudo. Estamos a fingir.
- Ah! - disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exactamente o oposto.
- É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é – disse Deus. Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, - continuou Deus - quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão.
“Sê antes uma Luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então saberás Quem Realmente És, e os outros também o saberão. Deixa que a tua Luz brilhe tanto que todos saibam como és especial!”
- Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? - perguntou a Pequena Alma.
- Claro! - Deus riu-se. Claro que podes! Mas lembra-te de que “especial” não quer dizer “melhor”! Todos são especiais, cada qual à sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver que podem ser especiais quando tu vires que podes ser especial!
- Uau! - disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando.
Posso ser tão especial quanto quiser!
- Sim, e podes começar agora mesmo - disse Deus, também dançando e saltando e rindo e pulando juntamente com a Pequena Alma - Que parte de especial é que queres ser?
- Que parte de especial? - repetiu a Pequena Alma. Não estou a perceber…
- Bem, - explicou Deus - ser a Luz é ser especial, e ser especial tem muitas partes:
É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser criativo. É especial ser paciente.
Conheces alguma outra maneira de ser especial?
A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento.
- Conheço imensas maneiras de ser especial! - exclamou a Pequena Alma
É especial ser prestável. É especial ser generoso. É especial ser simpático. É especial ser atencioso com os outros.
- Sim! - concordou Deus. E tu podes ser todas essas coisas, ou qualquer parte de.
- Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! - proclamou a Pequena Alma com grande entusiasmo. Quero ser a parte de especial chamada “perdão”. Não é ser especial alguém que perdoa?
- Ah, sim, isso é muito especial - assegurou Deus à Pequena Alma.
- Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa. Quero experimentar-me assim - disse a Pequena Alma.
- Bom, mas há uma coisa que devias saber — disse Deus.
A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia haver sempre alguma complicação.
- O que é? - suspirou a Pequena Alma.
- Não há ninguém a quem perdoar.
- Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
- Ninguém! - repetiu Deus. Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha à tua volta!
Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados, de todo o Reino, porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava a ter uma conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam a dizer.
Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve de concordar: Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela. Eram de tal forma maravilhosas, e a sua Luz brilhava tanto, que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.
- Então, perdoar quem? – perguntou Deus.
- Bem, isto não vai ter piada nenhuma! - resmungou a Pequena Alma . Eu queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser essa parte de especial.

E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste.
Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:
- Não te preocupes, Pequena Alma, eu vou ajudar-te - disse a Alma Amiga.
Vais? - a Pequena Alma animou-se. Mas o que é que tu podes fazer?
- Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares!
- Podes?
- Claro! - disse a Alma Amiga, alegremente. Posso entrar na tua próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares.
- Mas porquê? Porque é que farias isso? - perguntou a Pequena Alma. Tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para ti!
O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade tal que tornasse a tua Luz brilhante numa luz escura e baça? O que é que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a tornares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal?
- É simples - disse a Alma Amiga. Faço-o porque te amo.
A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.
- Não fiques tão espantada - disse a Alma Amiga .Tu fizeste o mesmo por mim. Não te lembras? Ah, nós já dançámos juntas, tu e eu, muitas vezes. Dançámos ao longo das eternidades e através de todas as épocas. Brincámos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu não te lembras. Já fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau. Fomos ambas a vítima e o vilão. Encontrámo-nos muitas vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra a oportunidade exacta e perfeita para Expressar e Experimentar Quem Realmente Somos.
E assim, - a Alma Amiga explicou mais um bocadinho - eu vou entrar na tua próxima vida física e ser a “má”, desta vez.
Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como Aquela Que Perdoa.
- Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? - perguntou a Pequena Alma, um pouco nervosa.
- Oh, havemos de pensar nalguma coisa - respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.
Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, e disse numa voz mais calma: Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes?
- Sobre o quê? - perguntou a Pequena Alma.
- Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não muito boa. Vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.
- Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres! - exclamou a Pequena Alma. E começou a dançar e a cantar: Eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar!
Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.
- O que é? - perguntou a Pequena Alma. O que é que eu posso fazer por ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!
- Claro que esta Alma Amiga é um anjo! - interrompeu Deus, - são todas! Lembra-te sempre: Não te enviei senão anjos.
E então a Pequena Alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.
- O que é que posso fazer por ti?
- No momento em que eu te atacar e atingir, - respondeu a Alma Amiga – no momento em que eu te fizer a pior coisa que possas imaginar, nesse preciso momento...
- Sim? - interrompeu a Pequena Alma. Sim?
A Alma Amiga ficou ainda mais quieta.
- Lembra-te de Quem Realmente Sou.
- Oh, não me hei-de esquecer! - gritou a Pequena Alma. Prometo! Lembrar-me-ei sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.
- Que bom - disse a Alma Amiga - porque, sabes, eu vou estar a fingir tanto, que eu própria me vou esquecer. E se tu não te lembrares de mim tal como eu sou realmente, eu posso também não me lembrar durante muito tempo. E se eu me esquecer de Quem Sou, tu podes esquecer-te de Quem És, e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha outra alma para nos lembrar às duas Quem Somos.
- Não vamos, não! - prometeu outra vez a Pequena Alma. Eu vou lembrar-me de ti! E vou agradecer-te por esta dádiva – a oportunidade que me dás de me experimentar como Quem Eu Sou.

E assim o acordo foi feito.
E a Pequena Alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a Luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte especial a que se chama Perdão.
E a Pequena Alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se experimentar como Perdão, e por agradecer a qualquer outra alma que o tornasse possível.
E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza - principalmente se trouxesse tristeza - a Pequena Alma pensava no que Deus lhe tinha dito:

Lembra-te sempre - Deus aqui tinha sorrido - não te enviei senão anjos.

domingo, 13 de julho de 2008

CONVENÇÃO FAMILIAR

Ao longo dos tempos a mulher, na maior parte das vezes com o precioso auxílio do homem, foi reivindicando direitos que sempre lhe haviam sido negados, e a reduziam a simples objecto.
Aos poucos, os mesmos foram-lhe sendo reconhecidos, a ponto de, hoje em dia, se falar em igualdade entre homem e mulher.
Contudo, com o adquirir dessas regalias, a mulher passou a estar muito sobrecarregada, acumulando deveres profissionais com as funções de dona de casa, mãe, educadora, gestora doméstica, um sem fim de solicitações.
Viu-se, assim, forçada, a percorrer verdadeiras maratonas.
E, se algumas conseguem um prodigioso equilíbrio



para gerir o seu tempo, outras há que desistem da corrida, e dão um “Basta! Estou farta!”.
É o caso desta mulher que, para alterar o rumo que a sua vida havia tomado, resolveu convocar uma reunião familiar.



1 a. Convenção Familiar - Temporada 2008

Queridos Filhos,
Em primeiro lugar Mamãe gostaria de agradecer a presença de todos nesta Primeira Convenção Familiar.
Mamãe sabe como foi difícil abrir um espaço nas agendas de cada um de vocês:
- Papai tinha uma lavagem de carro praticamente inadiável;
- Júnior já tinha marcado de se trancar no quarto;
- Carol estava para receber pelo menos três telefonemas importantíssimos de uma hora e meia cada um.

Mamãe está comovida!

Muito obrigada!

Bem, conforme Mamãe já tinha mais ou menos antecipado, esta Convenção é para comunicar ao público interno – Papai, Júnior e Carol – todas as modificações nos produtos e serviços da linha Mamãe.

Como vocês sabem, a última vez que Mamãe passou por reformulações foi há 14 anos, com o nascimento do Júnior.
De lá para cá, os hábitos e costumes, o panorama cultural, a economia e o mercado passaram por transformações radicais.

Mamãe precisa acompanhar a evolução dos tempos, sob pena de ver sua marca desvalorizada.

Para começar, Mamãe vai mudar a embalagem.
Mamãe sabe que esta é uma decisão polémica, mas, acreditem, é o que deve ser feito.
Mamãe sai desta Convenção direto para um SPA, e de lá para uma clínica de cirurgia plástica. Nada assim tão radical… Haverá pouquíssimas alterações de rótulo, vocês vão ver.
Mamãe vai continuar com praticamente o mesmo formato, só que com linhas mais retas em alguns lugares e linhas mais curvas em outros.

Calma, Papai! Mamãe já captou recursos no mercado.
Mamãe vai ser patrocinada por uma nova marca de comida congelada, ”Le Rouanet”, porque Mamãe também é cultura.
Junto com o lançamento da nova embalagem de Mamãe, no entanto, acontecerá o movimento mais arriscado deste plano de reposicionamento.
Sinto informar, mas Mamãe vai tirar do mercado o produto Supermãe.
Não, não, não adianta reclamar!
Supermãe já deu o que tinha que dar!
Trata-se de um produto anacrónico e superado, antieconómico e difícil de fabricar.
Mamãe sabe que o fim da Supermãe vai aumentar a demanda pela linha Vovó, que disputa o mesmo segmento.
Paciência! Você não pode atender todos os públicos o tempo todo.

No lugar de Supermãe, Mamãe vai lançar (queriam que eu dissesse “vai estar lançando”, mas eu recuso) novas linhas de produtos mais adequados à realidade de mercado.
Vocês vão poder consumir Mamãe nas versões Active (executiva e profissional), Light (com baixos teores de pegação de pé), Classic (rígida e orientadora), Italian (superprotetora) e Do-it-Yourself (virem-se, fui passear no shopping ).
Mas uma de cada vez, sem misturar.
Ah, sim, Mamãe detesta estes nomes em inglês, mas me disseram que, se não for assim, não vende.

Mamãe gostaria de aproveitar para lançar seus novos canais de comunicação:
De hoje em diante, em vez de sair gritando pela casa, vocês vão poder ligar para o SAC-Mamãe, um 0300 que dá direto no meu celular (apenas 27 centavos por minuto, mais impostos).
Mamãe também aceita sugestões e críticas no seu endereço na Net.

Mais uma vez Mamãe agradece a presença e a atenção de todos.

Autoria desconhecida

quinta-feira, 10 de julho de 2008

REGRESSO DE FÉRIAS

Quando ir de férias implica viajar de avião, nunca se sabe quais as surpresas que nos aguardam.
Para além das duas horas de antecedência com que temos que estar no aeroporto, há uma série de formalidades a cumprir.

Feito o check-in vamos passar pelo controle. Começamos por retirar de cima do corpo tudo o que é susceptível de “apitar”, e que a moral e os bons costumes permitem (desta vez não foi preciso descalçar os sapatos, como aconteceu quando regressei dos Estados Unidos, em 2003, se a memória não me falha…)
Vistos ao raio X, estamos “limpos”. Nada foi detectado. Mas há um volume de cabine que precisa ser aberto – “tem muitos aparelhos electrónicos que impedem os raios X de ver bem o interior”.
Aberto o saco que contém a máquina de barbear, as máquinas fotográficas, carregadores de telemóvel e de pilhas das máquinas, …um sem fim de “aparelhos electrónicos” que formam a parede intransponível, a funcionária de serviço começa a revolver tudo, procurando não se sabe o quê.
Foi bem sucedida na sua busca: encontrou uma embalagem de bálsamo pós barbear, de 300ml.
- Isto não pode seguir – informou.
- Porquê?
- Porque tem 300ml. Só são permitidas embalagens de 100ml.
E foi buscar um folheto, que gentilmente nos cedeu, onde consta tudo o que se pode (e não pode) transportar na cabine.
(Em meu entender esta informação deveria ter sido prestada pela agência de viagens).
Ainda houve uma tentativa de “início de conversações” com vista a obter autorização para o transporte da dita embalagem. Aí resolvi intervir porque lei é lei. Posso não concordar com elas, (leis) mas não adianta entrar em conflito com quem as faz cumprir. Para reclamar há meios competentes, que não estes.
Finalmente seguimos para a sala de espera. Havia já um aviso de que o voo estava um pouco atrasado. Normal. Os vários televisores por ali espalhados transmitem um jogo de futebol (Espanha/Rússia???), que os interessados por estes eventos seguem atentamente. Assim não darão conta do tempo que passa…
Algum tempo depois é dada ordem de embarque.
Mostramos os bilhetes, retiram a maior parte do papel, (que pagamos por inteiro!) devolvendo-nos apenas um pequeno rectângulo onde consta o número do assento.
Entramos no autocarro que nos transportará até ao avião. O autocarro enche-se, o motorista não aparece, esperamos. Continuamos esperando!
Finalmente surge uma funcionária informando que o voo está atrasado, não se sabe quanto, porque, na viagem de regresso do mesmo avião em que iremos seguir, houve um problema que estão a tentar resolver:
- Uma passageira pegou-se de razões com um elemento da tripulação; foi necessário chamar a polícia, que lá está, e não se sabe o tempo que vai demorar. Portanto, é melhor saírem do autocarro e voltar à sala de espera, onde ficarão mais bem instalados.
Todas as pessoas que estavam em pé, e algumas sentadas, começaram a sair. Nós continuamos sentados; preferimos aguardar aqui.
Finalmente todos regressam ao autocarro, incluindo o motorista, e somos conduzidos ao avião.
A viagem decorreu sem sobressaltos. Chegamos apenas com noventa e tal minutos de atraso ao nosso destino, passava já da uma hora da noite.
Cumpridas as normas do aeroporto e levantadas as bagagens, seguimos rumo à cidade, que encontramos toda engalanada!
Tantas luzinhas e flores de papel nas ruas para nos receber???
Sinto-me Alberto João!!!
Afinal, tratava-se “apenas” dos festejos de S. João! No dia seguinte assistiremos às marchas populares que desfilam pelas ruas, onde não faltam as barracas das farturas e da sardinha assada.
Depois duma noite (ou o que restava dela…) bem dormida, encontramo-nos, à hora de almoço, com uns amigos.
A minha amiga pergunta-me:
- Acreditou naquela explicação para o atraso do avião?
Surpreendida com tal pergunta, respondi:
- Sim. Porque não???
- Eu não acreditei. Acho que foi apenas uma desculpa…
- Como assim?
- Eu saí do autocarro quando avisaram que a demora ia ser grande. Fui para a sala de espera. E sabe o que aconteceu? Logo que o futebol acabou mandaram-nos entrar novamente no autocarro. Ninguém me tira da cabeça que arranjaram aquela desculpa para não perderem o futebol!

Confesso que nunca me ocorreria pensar uma coisa destas! E, sinceramente, não acredito! Para mim tratou-se apenas de uma coincidência.
Embora a Margarida Rebelo Pinto diga que «Não há coincidências», eu acredito que há.

Para compensar todas as aventuras/desventuras da ida, o regresso processou-se dentro da normalidade.
A estadia foi boa, apesar do tempo ter estado do contra. Deu para descansar e recarregar baterias. Pelo menos até meados de Agosto…

Obs. Se quiser veja as fotos que coloquei na margem direita do blogue, com o título “Férias-1ª.fase”, que mostram o local quase paradisíaco onde passei duas semanas – Ilha de Porto Santo

quinta-feira, 3 de julho de 2008

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Pedro Abelardo nasceu em 1079, em Le Pallet, perto de Nantes, Bretanha. Tornou-se célebre na Europa como Professor de Teologia e Intelectual.
Em 1114 conheceu Heloísa, à data com 14 anos, rendendo-se aos seus encantos.
Veja a trágica história de amor que ambos viveram.



ABELARDO E HELOÍSA



O romance entre Heloísa e o filósofo Pedro Abelardo iniciou-se em Paris, no período entre o final da Idade Média e o início da Renascença.
Abelardo havia sido recentemente contratado pela Escola Catedral de Notre Dame, tornando-se, em pouco tempo, muito conhecido por admirar os filósofos não cristãos, numa época de forte poder da Igreja Católica.
Heloísa, que já ouvira falar de Abelardo e se interessava pelas suas teorias polémicas, tentou aproximar-se dele através dos seus professores. Mas as suas tentativas foram em vão.
Uma tarde, Heloísa saiu para passear com a sua criada Sibyle, e aproximou-se de um grupo de estudantes reunidos em torno de alguém.
O seu chapéu foi levado pelo vento, indo parar precisamente nos pés do jovem que era o alvo das atenções, o mestre Abelardo.
Ao escutar o seu nome, o coração de Heloísa disparou!
Ele apanhou o chapéu e, quando Heloísa se aproximou para o pegar, ele logo a reconheceu como Heloísa de Notre Dame, convidando-a para juntar-se ao grupo.
Risos jocosos foram ouvidos, mas cessaram imediatamente quando os dois se olharam.
Heloísa colocou o seu chapéu, fez uma reverência a Abelardo, e retirou-se.
Desde esse encontro, porém. Heloísa não conseguiu mais esquecer Abelardo.
Fingiu estar doente, dispensou os seus antigos professores, e passou a interessar-se pelas obras de Platão e Ovídio, pelo Cântico dos Cânticos, pela alquimia e pelo estudo dos filtros, essências e ervas.
Ela sabia que Abelardo seria atraído pelas suas actividades e viria até ela.
Quando ficou sabendo dos estudos de Heloísa, conforme previsto por ela, Abelardo imediatamente a procurou.
Abelardo tornou-se amigo de Fulbert de Notre Dame, tio e tutor de Heloísa, que logo o aceitou como o mais novo professor da sua sobrinha, hospedando-o em sua casa, em troca das aulas nocturnas que ele lhe daria.
Em pouco tempo essas aulas passaram a ser ansiosamente aguardadas, e, sem demora, contando com a confiança de Fulbert, passaram a ficar a sós.
Fulbert ia dormir, e a criada retirava-se discretamente para o quarto ao lado.
Em alguns meses conheciam-se muito bem, e só tinham paz quando estavam juntos.
Um dia Abelardo tirou o cinto que prendia a túnica de Heloísa, e os dois amaram-se.
A partir desse momento Abelardo passou a desinteressar-se de tudo, só pensando em Heloísa, descuidando-se das suas obrigações como professor.
Os problemas começaram a surgir. Primeiro, esse amor começou a esbarrar nos conceitos da época, quando os intelectuais, como Heloísa e Abelardo, racionalizavam o amor, acreditando que os impulsos sensuais deveriam ser reprimidos pelo intelecto.
Não havia lugar para o desejo, que era um componente muito forte no relacionamento dos dois, originando um intenso conflito para ambos. Ao mesmo tempo, Sibyle, a criada, adoecera, e uma outra serva que a substituíra encontrou uma carta de Abelardo dirigida a Heloísa, e a entregou a Fulbert, que imediatamente expulsou Abelardo.
No entanto isso não foi suficiente para separá-los.
Heloísa preparou poções para seu tio dormir, e, com a ajuda da criada Sibyle, Abelardo foi conduzido ao porão. Local que passou a ser o ponto de encontro dos dois.
Uma noite, porém, alertado por outra criada, Fulbert acabou por descobri-los.
Heloísa foi espancada, e a casa passou a ser cuidadosamente vigiada.
Mesmo assim o amor de Abelardo e Heloísa não diminuiu, e eles passaram a encontra-se onde pudessem: sacristias, confessionários e catedrais, os únicos lugares que Heloísa podia frequentar sem acompanhantes a seu lado.
Heloísa acabou engravidando, e para evitar aquele escândalo, Abelardo levou-a à aldeia de Pallet, no interior da França.
Ali, Abelardo deixou Heloísa aos cuidados da sua irmã, e voltou a Paris;
mas não aguentou a solidão que sentia longe da sua amada, e resolveu falar com Fulbert para pedir o seu perdão e a mão de Heloísa em casamento.
Surpreendentemente Fulbert perdoou e concordou com o casamento.
Ao receber as boas novas, Heloísa deixando a criança com a irmã de Abelardo, voltou a Paris, sentindo, no entanto, um prenúncio de tragédia.
Casaram-se no meio da noite, às pressas, numa pequena ala da Catedral de Notre Dame, sem sequer trocar alianças ou um beijo na frente do sacerdote.
O sigilo do casamento não durou muito, e logo começaram a zombar de Heloísa e da educação que Fulbert lhe dera.
Ofendido, Fulbert decidiu pôr um fim naquilo tudo. Contratou dois carrascos e pagou-lhes para invadirem o quarto de Abelardo durante a noite e arrancar-lhe o membro viril.
Após essa tragédia Abelardo e Heloísa jamais voltaram a falar-se.
Ela ingressou no Convento de Santa Maria de Argenteuil, em profundo estado de depressão, só retornando à vida aos poucos, conforme as notícias das melhores do seu amado iam surgindo.
Para tentar amenizar a dor que sentiam pela falta um do outro, ambos passaram a dedicar-se exclusivamente ao trabalho.
Abelardo construiu uma Escola Mosteiro ao lado da Escola Convento de Heloísa. Viam-se diariamente, mas nunca se falavam. Apenas trocavam cartas apaixonadas.
Abelardo morreu em 1142, com 63 anos de idade. Heloísa ergueu um grande sepulcro em sua homenagem. Faleceu algum tempo depois, sendo, por iniciativa das suas alunas, sepultada ao lado de Abelardo.
Conta-se que, ao abrirem a sepultura de Abelardo para ali depositarem Heloísa, encontraram o seu corpo ainda intacto e de braços abertos, como se estivesse aguardando a chegada de Heloísa.
Em 1817 os restos mortais dos dois amantes foram levados para o cemitério do Padre Lachaise.

Sepultura de Abelardo e Heloísa no cemitério do Padre Lachaise


Morte de Heloísa