quinta-feira, 22 de maio de 2008

DIA DA ASCENSÃO

Dia da Ascensão, do Corpo de Deus ou Quinta feira da Espiga, três nomes diferentes para o mesmo dia, que se celebra na quinta feira a seguir ao Domingo de Pentecostes.
Segundo a religião católica o Dia da Ascensão comemora a ascensão de Jesus ao céu, depois de ter sido crucificado e ter ressuscitado, o que se celebra na Páscoa. Encerra-se assim um ciclo de quarenta dias.
Também para os católicos, a festa mundial do Corpo de Deus, para celebrar a Ressurreição, foi decretada em 1264, pelo papa Urbano IV.
A procissão do Corpo de Deus teve início em Colónia, Alemanha, em 1270, e mantém-se até aos dias de hoje.



(Procissão do Corpo de Deus, Alemanha, 2005)

Sendo Portugal um país tradicionalmente católico, nos dias de hoje não é dado grande relevo a esta procissão, excepção feita a uma freguesia de Póvoa de Varzim, Rates, em que assumem particular importância os tapetes de flores que ornamentam as ruas e atraiem a curiosidade de turistas.



(Tapete de flores em Rates, Póvoa de Varzim)

Neste dia celebra-se igualmente o Dia da Espiga ou Quinta feira da Espiga.
Acredita-se que esta celebração terá tido origem num antigo ritual cristão, que consistia na bênção dos primeiros frutos. Há, porém, quem defenda que remonta a tempos ainda mais antigos, em que se realizavam festas pagãs em honra da deusa Flora, os quais ocorriam no início da Primavera.
Em Portugal cada dia se torna mais raro o bonito ritual em que os rapazes e as raparigas iam para o campo apanhar a espiga e flores campestres, com as quais formavam ramos que depois eram oferecidos e conservados em casa até ao ano seguinte.
Esses ramos, obrigatoriamente, deveriam conter:
- A espiga – para que haja pão, o que significa comida em abundância
- Oliveira – símbolo de paz
- Flores – pelas suas cores simbolizando alegria e também:
Malmequer, que traz ouro e prata,
Papoila, amor e vida,
Alecrim, saúde e força.

Hoje em dia, principalmente nas grandes cidades, as pessoas já não vão colher o Ramo da Espiga, optando por comprá-lo.
Deste modo o negócio vai ajudando a manter e preservar a tradição.




Na Ilha Terceira, Açores, decorrem, durante o mês de Maio, as festas do Senhor Santo Cristo, nas quais está também incluída a celebração do Corpo de Deus.
Uma nota marcante destes festejos são as célebres «largadas de toiros à corda», um dos maiores atractivos para a população local e turistas, que a elas acorrem em grande número.
O ambiente é festivo, e as cenas que frequentemente se verificam , bastante cómicas, não se revestem de grande perigo, dada a mansidão dos toiros.
Não há notícia de que alguma vez tenha ocorrido algum acidente grave; apenas uma ou outra cornada.
Divirta-se com estas pequenas amostras.







15 comentários:

com senso disse...

Já lá vai o tempo em que eu e os meus colegas de escola andavamos a apanhar a espiga e em que os feriados religiosos diziam qualquer coisa às pessoas.
Hoje em dia, estes feriados, ou servem para fazer umas mini-férias ou para fazer as compritas que estão em falta.
Este texto deu-me a conhecer dados muito interessantes sobre esta Festa religiosa. Dados que não conhecia, sinceramente. Muito obrigado.
Um feliz dia de Corpo de Deus.
Um beijinho, com amizade!

xistosa, josé torres disse...

Não conhecia a composição do ramo e do seu simbolismo.

Nem sei se os chineses sabem desta tradição ... pois se tal suceder, "acabam-se os trabalhos", para quem leva as tradições com convicção.
Para mim, que estou reformado, é um sábado.
A semana tem 6 sábados e 1 domingo.

vieira calado disse...

Fui até à igreja de Guadalupe, séc. XII (próximo de Sagres, onde se diz que o Infante ia rezar), conhece?
Os campos de flores silvestres estavam por ali...
Cumprimentos

Rafeiro Perfumado disse...

Então é por isso que eu não fui trabalhar hoje... até fiquei um bocadinho religioso e tudo! ;)

A. João Soares disse...

Nos Açores, há a festa do Espírito Santo, dos impérios. Não me recordo se está relacionado com a Ascenção, ma é provável que sim.
Será também de relacionar com festas pagãs anteriores a Cristo, pois é uma data relacionada com as luas, móvel, tal como a Páscoa que é depois da primeira lua cheia depois do equinócio da primavera. A tradição da espiga lembra as mitologia Grega e Romana do culto à Deusa Ceres e a outros deuses relacionados com a natureza, principalmente a agricultura.
A religião sempre foi uma necessidade dos povos e supriu, de certo modo, as carências do ensino, contribuindo para a educação quanto ao civismo na sua globalidade das relações entre as pessoas na vida em sociedade.
Hoje, os feriados servem para distracção e consumismo, e muito pouco para festejar os acontecimentos que lhes deram origem, mais nos de datas da história nacional.
Beijos
A. João Soares

Mariazita disse...

Prezados comentadores
Costumo responder aos comentários, que amavelmente aqui inserem, por ordem de entrada.
Hoje vou abrir uma excepção e responder em primeiro lugar ao último, o meu querido amigo João Soares.
Assim poderão ler a resposta que lhe dou.
Meu caro João
No post que apresentei não entrei em grandes pormenores porque me recordo de UM dos MUITOS bons conselhos que me deu, quando eu preparava a abertura deste blog:
“Não escrever textos muito compridos”.
“As pessoas não têm paciência para ler textos muito extensos”.

Há uns anos passei o mês de Maio em Angra do Heroísmo, Terceira, e assisti às festas do Senhor Santo Cristo. Não sei se o João já lá esteve, mas digo-lhe que vale a pena. As diversas capelas, chamadas Impérios, (fotografei todos, é claro!) são enfeitadas a rigor, havendo uma certa disputa para eleger o mais bonito. Há depois distribuição de alimentos aos mais desfavorecidos. No meio de todos os festejos realiza-se uma procissão, chamada de “Corpus Christi”, em que a imagem de Cristo (vestido, não pregado na cruz) é transportada no andor, seguida de “anjinhos” e fiéis. Não posso afirmar, porque não me lembro, se esta procissão se realizou no dia do Corpo de Deus, mas parece-me lógico que sim. Fazem igualmente parte dos festejos as célebres “largadas de toiros à corda” (estas prolongam-se até Outubro) que também gostei de ver. Não gosto, não suporto, touradas, mas isto é muito diferente. Não há perigo real para os “pegadores” e, principalmente, não há sofrimento para o animal, a não ser alguma fúria que procura extravasar, marrando em tudo que mexe!
Como se devem evitar textos compridos…fico por aqui, embora muito mais houvesse a recordar.
Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Agora, sim, vamos seguir a ordem de entrada.
Caro Com Senso
A tradição já não é nada do que era!
Os tempos de “apanhar a espiga” já lá vão. Agora, outros a apanham e comercializam, e quem a quiser terá que a comprar.
Os feriados religiosos, para a maioria das pessoas, são como quaisquer outros – um dia em que não se vai trabalhar. E, se calhar junto ao fim de semana, melhor ainda: pode-se dar um saltinho ao Algarve, que agora, com a auto-estrada, fica logo ali ao virar da esquina.
Ver-nos-emos nos próximos festejos…
Beijos amigos
Mariazita

Mariazita disse...

Caro Xistosa
Não tardará muito que a “espiga” se venda nas lojas dos chineses!!!
Aí, a tradicional espiga de trigo será substituída por uma espiga de arroz, e as papoilas e outra flores serão de plástico.
Terá, assim, a vantagem de se poder guardar por muito tempo, em vez de ser renovada todos os anos!!!
Sinais dos tempos…
Bons sábados, e bom Domingo.
Um abraço
Mariazita

Mariazita disse...

Vieira Calado
Já fui várias vezes a Sagres. Maravilhosa beleza agreste!
Conheço bastante bem o Algarve, de ponta a ponta. Em Lagos, com a sua famosa estátua de D.Sebastião -:), já passei férias várias vezes.
A Igreja de Guadalupe, mais uma pequena capela do que igreja, muito antiga (não sabia quanto…) está rodeada de campos, onde devem nascer muitas flores silvestres, boas mesmo para a “espiga”…
Obrigada por ter vindo. Irei visitá-lo em breve.
Volte sempre.
Um abraço
Mariazita

Mariazita disse...

Olá Rafeiro
Pelo menos já tinha percebido que não tinha ido trabalhar???!!! Nada mau -:)))
Com que então contribuí para a sua formação religiosa… Cuidado, não se torne fanático!
O fundamentalismo é mau, em TUDO, sobretudo na religião.
Um abraço
Mariazita

João Paulo Cardoso disse...

Ascendi a este blogue para agradecer a visita ao "Regresso Ao Eldorado".

Há por lá sempre velhas fotografias para admirar e textos para ler praticamente todos os dias.

Paramos aos sábados, domingos e feriados para descanso do pessoal.

Beijos.

P.S: Blogue interessante. Vou voltar.

A. João Soares disse...

Cara Mariazita.
Vivi em Ponta Delgada um ano, com duas ou três idas rápidas à Terceira e tive ocasião de conhecer as paisagens, as belezas construídas e naturais, os costumes das pessoas, etc
A festa do Sr Santo Cristo dos Milagres em Ponta Delgada comemorou-se este ano já há duas ou três semanas, pelo que não coincide com o Corpus Cristi. As festas do Espírito Santo com os Impérios e a distribuição de alimentos à população, um bolo especial de massa sovada, são uma tradição do dia de Corpo de Deus.
Cada terra com seu uso, cada roca com o seu fuso.
Beijos
João

Mariazita disse...

João Paulo
Obrigada pela visita.
Belo horário, esse! Acho que vou adoptá-lo...
Brevemente visitarei o rio do ouro...e, como sugere, levarei companhia.
Um abraço
Mariazita

Mariazita disse...

Caro João
É como diz, meu amigo – cada terra com seu uso…
Uma coisa me apraz registar: a partir dum simples e despretensioso post, que apenas se destinava a assinalar uma data, surgiu uma troca de opiniões bastante interessante.
Despertou de tal forma a minha curiosidade que me levou a querer saber mais. E como tenho um fraquinho por história (antiga) fiquei a saber a ligação dos “impérios” com o Espírito Santo, como estes festejos foram levados para os Açores, etc., etc.
Foi positivo.
Obrigada pela sua participação.
Beijinhos
Mariazita

Beatriz Bragança disse...

Querida Mariazita
Como gostei de ler o seu texto! E das informações que nos revelou sobre estes usos e costumes e sua proveniência!
Neste momento é uma espécie de recordação, pois com a situação de pandemia que estamos a viver, amanhã não haverá procissões. Usei o plural pois, além das que referiu, devo salientar a que se fazia em Penafiel e na cidade do Porto, que eu saiba.
Eram momentos únicos, que uniam a população, numa manifestação da sua religiosidade e Fé em Deus.
Esperemos que, de amanhã a um ano, possamos de novo ter as procissões nas nossas aldeias e cidades.
Um beijinho
Beatriz