domingo, 13 de abril de 2008

PASSAMOS PELAS COISAS SEM AS VER

Porque hoje é Domingo, façamos uma pequena pausa em todos os problemas que nos afligem no dia-a-dia, e aproveitemos para olhar um pouco para dentro de nós mesmos.
Passamos o tempo a pensar em tudo o que está mal ao nosso redor, a alertar para os perigos que nos cercam, a tentar apontar soluções… e esquecemo-nos de analisar o nosso próprio comportamento.
Tudo isto porque:

PASSAMOS PELAS COISAS SEM AS VER


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos.
Como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade

E assim perdemos, muitas vezes, a oportunidade de apreciar verdadeiras obras de arte que estão mesmo ao nosso lado, só porque não têm um apelativo laçarote dourado a enfeitá-las.
Ora veja.

Passamos por verdadeiros diamantes sem dar por eles

Aquela poderia ser mais uma manhã como qualquer outra.

Um sujeito entra na estação do metro, vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo da entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, na hora de ponta matinal.
Durante os 45 minutos em que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.

Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas, num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1.000 dólares.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, telemóvel no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.

A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre “valor, contexto e arte”.
A conclusão: “Estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura, um artefacto de luxo sem etiqueta de marca”.

Veja agora o vídeo da experiência.


5 comentários:

A. João Soares disse...

Cara Mariazita,
Será que muita gente que diz gostar de arte, não passa de snob que quer apenas mostrar aos outros que é culta e tem uma sensibilidade superior?
Hoje vive-se de ostentação de «faz de conta» de exibição, de aparências, em que o carro é um símbolo de poder, tal como ter ido a um grande concerto ou ao futebol.
Um violinista exímio é aplaudido num concerto em que as pessoas vão ricamente vestidas para fazer figura, mas é ignorado pelas mesmas pessoas quando toca as mesmas composições num local de pedintes.
Essa gente gosta realmente de música?
É bom que mais vezes apareçam textos como este para as pessoas deixarem de ser cínicas e passarem a viver com mais verdade sem se preocuparem, tanto com a vontade de atrair as atenções dos outros.
Sejamos nós mesmos com autenticidade.
Beijos
A. João Soares

Anónimo disse...

Excelente texto Querida Mariazita.
Apesar da máscara que muitas pessoas colocam, fazendo crer aquilo que não são,concordo em absoluto com o que diz o João Soares, acredito também que esta situação ,como muitas outras, deve-se ao facto de as pessoas terem a mente a transbordar de pensamentos. A maior parte destes pensamentos são tão maus,tão pesados, tão pessimistas que fazem com que tudo à sua volta seja uma grande desgraça e um grande pesadelo.
Neste mundo em que todos querem sobreviver e outros chegar ao topo, custe o que custar, mesmo que estivesse ali um anjo, um Deus ou um Mestre para os levar ao paraíso, a maior parte das pessoas não o veria.É urgente que as pessoas retirem todo o lixo que acumulam na mente para assim perceberem que, apesar de tudo, a vida é um milagre e que há muitas coisas lindas para ver, ouvir e sentir.
Na minha modesta opinião o segredo é simples: abram o coração.
Beijinhos

Mariazita disse...

Meu caro João
A sua análise é perfeita, como de costume.
Não sei se se recorda de um vídeo que circulou há tempos, que mostrava uma exposição de grandes pintores, em cuja galeria foi colocado um desenho feito por cianças dum infantário...
Colocaram esses rabiscos numa moldura lindíssima, e deram-lhe lugar de destaque na galeria.
Foi o "quadro" mais visto e aplaudido de todos!
Os comentários dos "apreciadores de arte" faziam rir até às lágrimas!
Vivemos num mundo de fachada.
Mais importante do que "ser" é "parecer".
E isto acontece em todas as "artes", até naquelas em que a verdade deveria ser rainha.
Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Querida Canduxa
Se leres a minha resposta ao comentário do João Soares, verás que estamos todos (nós os três, pelo menos...) de acordo em que vivemos numa sociedade de aparências.
A autenticidade, a veracidade e outras virtudes, estão cada vez mais fora de moda.
A todos os níveis houve uma inversão de valores a que é urgente "dar uma volta".
Sei que em todos os tempos houve pessoas que gostavam de aparentar o que não eram.
Mas os ensinamentos de rectidão de carácter que se recebiam, e que influenciavam a maneira de ser e estar em sociedade, têm vindo a ser esquecidos e substituídos pelos "brandos costumes".
Com a tua fé inquebrantável dirás: melhores dias hão-de vir!
E eu respondo: Ámen.
Beijinhos
Mariazita

Beatriz Bragança disse...

Querida Mariazita
Tem o grande condão de acertar com muita eficácia nos temas que escolhe!
Este é um deles:não sei se é snobismo, se pressa, stress, distracção, o certo é que situações destas são incríveis e acontecem mesmo!
Também pode ter-se dado o facto de as pessoas associarem o violinista a um pobre que toca par receber alguns dólares, como acontece em muitas estações de metro, em locais com semáforos onde a mudança de cor tem uma maior duração...enfim, tantas explicações poderiam caber aqui!
O certo é que é lamentável ignorar uma presença destas!
Estamos num tempo em que cada um(salvo raras e honrosas excepções) se preocupa unicamente consigo e nem se apercebe do seu próximo.
Um beijinho
Beatriz