quarta-feira, 2 de abril de 2008

OS PROFESSORES SÃO ÚTEIS

Desde que começou toda esta polémica relacionada com manifestações de professores, avaliações, telemóveis nas salas de aula, agressões, etc., tenho recebido muitos textos, com pedido de publicação neste blog.
Não tenho atendido a maioria desses pedidos porque me são remetidos sem autoria conhecida (excepto a dos remetentes, que as reencaminham, mas não são os autores dos textos).
Neste que aqui apresento consta o nome do autor. Devo dizer que não o conheço, mas já tenho lido várias coisas escritas por ele, (ou que, pelo menos, lhe são atribuídas).




Escola e justiça pelas próprias mãos.

Ontem visitei uma escola no concelho de Sintra. Era a “semana da leitura” numa escola cuja biblioteca está permanentemente aberta das 08h00 às 22h00 por devoção dos seus professores.
Os de várias disciplinas, de Português a Educação Física e Geometria – cada um faz uma escala para garantir um dos objectivos internos da própria escola: mantê-la aberta nesse período.

Havia alunos a ajudar no bar e no refeitório, porque não há pessoal suficiente. Alunos, funcionários administrativos e professores, promoveram uma maratona de leitura.

A ministra da educação pede a estes professores para “trabalharem mais um pouco”, coisa que eles já fazem há bastante tempo; ouvi alunos portugueses, africanos, indianos, do Leste Europeu, a falar com orgulho da sua escola. Falando com eles, um a um, percebe-se entusiasmo.

Percebo pela blagosfera uma grande vontade de fazer “justiça pelas próprias mãos” aos professores, mas vejo poucas pessoas com disponibilidade para ouvi-los nos corredores das escolas, quando fazem turnos de limpeza, quando atendem alunos em dificuldade ou fazem escalas para Português como língua estrangeira para rapazes ucranianos ou indianos que não entendem sequer o alfabeto ocidental, ou quando tratam dos problemas pessoais de alguns deles (ou porque não tomam o pequeno-almoço em casa, ou têm dificuldade em aceitar um namoro desfeito, ou quando andam na droga).

Os professores, estes professores, são um dos últimos elos (percebe-se isso tão bem) entre os miúdos e miúdas desorientados e um mundo que é geralmente ingrato. São avaliados todos os dias pelo ambiente escolar, pelo ruído da rua, pelas horas de atendimento, pelas reuniões que o ME não suspeita.

Muitas vezes as famílias não sabem o ano que os miúdos frequentam; não sabem quantas faltas eles deram; não sabem se os filhos estão de ressaca.
Os professores sabem.

Essa vontade de disciplinar os professores, eu percebo-a. Durante trinta anos, uma série de funcionários que abundou “pelos corredores do ME” (gosto da expressão, eu sei), decretou e planeou coisas inenarráveis para as escolas, sem as visitar, sem as conhecer, ignorando que essa geringonça de “planeamento”, “objectivos”, princípios pedagógicos modernos, funcionava muito bem nas suas cabecinhas, mas que era necessário testar tudo nas escolas, que não podem ser laboratórios para experiências engenhosas.

Muitos professores foram desmotivados ao longo destes anos. Ou porque os processos disciplinares eram longos depois de uma agressão (o ME ignora que esses processos devem ser rápidos e decisivos), ou porque ninguém sabe como a TLEBS é aplicada. Ninguém, que eu tivesse ouvido nas escolas onde vou, discordou da necessidade de avaliação. Mas eu agradecia que se avaliasse também o trabalho do ME durante estes últimos anos; que se avaliasse o quanto o ME trabalhou para dificultar a vida nas escolas com medidas insensatas, inadequadas e incompreensíveis; que se avalie a qualidade dos programas de ensino e a sua linguagem imprópria e incompreensível.

Sou e sempre fui dos primeiros a pedir avaliação aos professores, porque é uma exigência democrática e que pode ajudar a melhorar a qualidade do ensino. Mas é fácil escolher os professores como bodes expiatórios de toda a desgraça do “sistema”, como se tivessem sido eles a deixar apodrecer as escolas ou a introduzir reformas sobre reformas, a maior parte delas abandonadas una anos depois. Por isso, quando pedirem “justiça” e “disciplina” e “rigor” (coisas elementares), não se esqueçam de visitar as escolas, de ver como é a vida dos professores, porque creio que se confunde em demasia aquilo que é “o mundo dos professores” com a imagem pública de um sistema desorganizado, oportunista e feito para produzir estatísticas boas para a propaganda.

Francisco José Viegas

5 comentários:

A. João Soares disse...

Cara Mariazita,
Um bom texto laudatório aos professores. Seria óptimo que houvesse professores disponíveis para actividades deste género em todas as escolas. Mas duvido que isso possa resultar em todos os lados. Porém, a formação dos adultos de amanhã exige muitos cuidados de acompenhamento dos alunos, suprindo a falta de apoio de familiares, de amigos e até da religião.
Beijos
A. João Soares

Sérgio Figueiredo disse...

Minha Amiga,

As minhas desculpas pela ausência. Tive o meu filho operado e necessitei de maior atenção para ele.

Post:

Está a criar-se um ambiente muito mau com o problema das escolas. Uns defendem alunos outros defendem professores, os alunos vão aproveitando e vão fazendo cada vez pior e isto não está bem.
Não sei o que o governo irá fazer para minimizar esta agonia.
Fico preocupado...afinal também sou pai e tenho um filho na escola.

Beijos

Mariazita disse...

Meu querido João
A si não preciso explicar a demora em agradecer a sua visita...
A arrumação da casa (agora, finalmente, está tudo por ordem cronológica!) e o que aconteceu com o meu Carlitos jutificam esta "aparente" indelicadeza.
Darei notícias por email.
Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Sérgio, meu amigo, lamento o sucedido com o teu filho.
Nesses momentos, mais do que em todos os outros, os filhos necessitam da atenção e carinho dos pais.
Também tenho tido alguns problemas de saúde de familiares, um dos quais relatarei aqui, brevemente.
Falaremos sobre o tema deste post e doutros do género, já que a saga continua.
Vou agora preparar um novo post, para publicar amanhã.
Obrigada pela visita, a que já me habituaste...
Beijinhos
Mariazita

Beatriz Bragança disse...

Querida Mariazita
Este louvor aos professores resulta de uma visita a uma escola de Sintra.Tenho a certeza de que, se o visitante fosse a qualquer outro local do país, encontraria outros motivos(alguns como estes), muitos mais, acredite, para continuar com os louvores a uma classe tão mal avaliada.
Sei do que falo. Os professores fazem muito mais do que aquilo que lhes é pedido. Eu agradeço a todos os que tive e que conheci ao longo da minha vida, por tudo o quanto fizeram por mim e por todos os jovens que foram seus discentes.
Conheci quem vivia em Espinho e vinha até ao Porto de comboio, para depois se deslocar até Castelo de Paiva, tão mal servida de transportes.As aulas tinham início às 9 horas para que todos chegassem a tempo e aí permaneciam os professores até às 17 horas, para voltarem a fazer o mesmo percurso ao contrário, diariamente, em nunca faltarem. Um dia, houve um atraso na camionete e a empregada (que vivia ali perto) logo carimbou o livro de ponto com a palavra a vermelho FALTOU, e mandou os alunos para o recreio.Que injustiça! Depois, conseguir juntar todos os jovens para aproveitarem a aula, foi tarefa difícil e morosa.
E como este deve haver tantos casos!!!
Os docentes( e falo do que conheço) preocupam-se com tudo o que diz respeito aos seus alunos, quer diga ou não respeito à matéria leccionada.Mas o que tenho visto é o dedo apontado a algumas excepções, que são logo alvo da Comunicação Social. Soube mesmo de quem se deslocava a casa dos alunos para os ir buscar para a escola.Mas deste género de professores ninguém fala
Bem haja por ter postado este texto.
Um beijinho
Beatriz