sábado, 19 de abril de 2008

O ACORDO

Mesmo correndo o risco de me considerarem fastidiosa, não posso, e não quero, deixar de voltar ao tema Educação.
O assunto não é pacífico, e está longe de o ser.
Será necessária uma viragem de 360 graus.

Mas como, no nosso País, as “urgências urgentes” implicam fracturas expostas…provavelmente só quando estas se verificarem é que serão tomadas medidas para sanar as já existentes

Segundo as últimas notícias terá havido um “aproximar” de posições entre o ME e os sindicatos.
Estas “últimas notícias” já foram transmitidas há uns dias. Daí para cá não se ouviu falar mais no assunto.
Estamos habituados a ver, nas televisões, as mesmas notícias repetidas até à exaustão.
Sobre este assunto fez-se um silêncio sepulcral!
Porque será???

O Professor Pacheco Pereira exprimiu a sua opinião, que vou transcrever, e que, segundo a sua óptica, explica o “acordo” havido.
Considero-o um bom analista. Mas discordo quando diz :
“Os professores que se manifestavam não queriam…nenhuma avaliação de desempenho”.
Pelo muito contacto que tenho com professores tenho que deduzir que esta afirmação não é correcta. Os professores não querem a avaliação nos termos em que foi proposta, apenas.

Vejamos a posição de Pacheco Pereira.


As notícias sobre as grandes cedências do Ministério da Educação aos sindicatos de professores correm o risco de terem sido muito exageradas.
Menezes, Portas, alguns comentadores e blogues vieram logo dizer que o verdadeiro ministro da Educação era Mário Nogueira, da FENPROF, e que Maria de Lurdes Rodrigues era “ex-ministra”.
Depois veio Mário Nogueira, cinco segundos depois, ainda o acordo estava fresco, falar da “grande vitória”, não fossem as pessoas aperceber-se de alguma coisa bizarra e perceber que a avaliação, afinal, continuava mais ou menos como estava.
A frágil ministra aparecia a falar mansamente nas mesmas televisões, dizendo que tinha havido um “acordo” e isso era bom, mas que estava salvaguardado o essencial, a “avaliação estava a fazer-se e ia continuar a fazer-se”.
Mas o que são estas palavras tímidas e quase sussurradas face à tonitruante declaração de vitória sindical, a seguir confirmada pelo espelho da incoerência da oposição, que, sem estudar, nem saber nada do que realmente tinha sido conseguido ou não, sem falar com os professores, veio logo com a conferência de imprensa fácil, declarar que houvera “um grande recuo do Governo” ?
Ora, homem sensato desconfia quando há tanta pressa de correr para a televisão a dizer que se ganhou, e, ainda por cima, em grande.
Homem sensato sabe como funcionam o PCP e os sindicatos, sabe como eles estavam num beco sem saída criado pela sua própria vitória.
Depois de contribuírem para a gigantesca manifestação sabiam que não podiam dar continuidade à “luta” com uma greve, e tinham que recuar.
Homem sensato sabe que, por muito sucesso que a luta dos professores tenha tido, - e teve – a seguir à manifestação viria um refluxo, como veio.
Sabe o homem sensato e sabem, melhor do que ele, os sindicalistas profissionais.
Homem sensato e com memória já viu muitas vezes como, para os comunistas e os seus sindicalistas, o mais importante não são os anéis, são os dedos. Os dedos, aqui, são manter o adquirido, e o adquirido é o reforço dos sindicatos e do PCP na vida pública nacional, pensando também em 2009, ano de eleições.
Nunca, jamais, em tempo algum, organizações mais experientes a dormir, que mil líderes da oposição acordados, sabem que não podem correr o risco de ir mais longe e pôr em causa a percepção de vitória, com aventureirismos ou impasses cujo apodrecimento mostraria as fragilidades sindicais.
O PCP e os seus sindicatos sabem, melhor do que ninguém, que precisavam, como de pão para a boca, de um acordo, e sabiam que o ministério também precisava do mesmo. Um precisava de parecer que ganhava, e o outro de parecer que cedia.
Foi por isso que, de repente, se chegou a um acordo que, pelos vistos, os “professores”, citados pelos jornais, entendem como uma derrota e não como “a grande vitória”. Percebe-se porquê: os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho, e vai continuar a haver avaliação.
Eles sabem disso, os sindicatos sabem disso, a ministra sabe disso, o resto é coreografia.

Bastante tempo antes deste “acordo” já o Professor Ramiro Marques havia manifestado a sua apreensão quanto a um possível “entendimento” por parte dos sindicatos.

Para quem não saiba, Ramiro Marques é Professor Coordenador com Agregação da ESE (Escola Superior de Educação) de Santarém.
Autor de várias dezenas de livros escolares desde a década de 80, que vão do pré-escolar ao 12º.ano, escreveu também vários livros relacionados com Educação, (alguns publicados também em Espanha e no Brasil) ,até 2007.

Vejamos agora a preocupação de Ramiro Marques, que parecia adivinhar o que viria a acontecer.


Se os professores desmobilizarem será a desgraça total!

“Inclino-me a pensar que os sindicatos vão, mais uma vez, desmobilizar os professores a troco de coisa nenhuma.
Umas cedências de pormenor, mantendo o modelo tal como está, para dar a ideia de que houve recuo e que todos ganharam. Se assim for (oxalá me engane!), será uma desgraça para os professores.
Com os professores de joelhos, outras malfeitorias virão: fim das pausas da Páscoa e do Natal, escolas abertas e com alunos durante a Páscoa e o Natal, formação contínua aos sábados, etc.
A profissão, tal como a conhecemos, está em vias de acabar. A escola pública vai morrer. As classes alta e média alta vão colocar os seus filhos em colégios privados, e as escolas públicas transformar-se-ão em imensos CEFs onde não se aprende nada, apenas se guardam crianças e adolescentes.
Os professores assistirão ao nascimento de um outro estatuto, ainda pior que o actual: o estatuto de prestadores de cuidados sociais e de empregados domésticos dos pais”.

Ramiro Marques

13 comentários:

A. João Soares disse...

Cara Mariazita,

Sem entrar no assunto do post, quero entrar noutra reflexão.
Nós, portugueses temos a tendência de exagerar tudo, o superlativo é levado ao absurdo, e há erros que permanecem porque as pessoas os cometem já mecanicamente sem lhes perscrutarem o significado.

Diz que «Será necessária uma viragem de 360 graus.» Para quê uma tal rotação? qual o resultado? que benefício daí viria?

Talvez quisesse dizer 540º ou para ser mais económica e gerar menos tonturas, poderia ficar pelos 180º.
Creio que a sua intenção seria mais conseguida com os 180 graus, pois a viragem de 360 graus daria um resultado nulo, tudo ficaria na mesma!!!
O meu gosto pela matemática não me deixa ficar indiferente a estas coisas.
Beijos
A. João Soares

Mariazita disse...

Meu caro João

Tratamos então de matemática??? Vou dar-lhe um conselho (depois não diga que não sou amiga) – ponha-se “en garde”! Está a falar com uma aluna de “vintes” a matemática. A sério.
Nos bons tempos de estudante sempre preferi matemática e português.
Matematicamente falando, ao rodar 360º volta ao ponto de partida. Seguindo esta linha de raciocínio, se a rodagem for de apenas 180º, fica a meio do caminho.
E se é verdade que “no meio é que está a virtude”, conseguiria assim um agradável e confortável ponto de equilíbrio.
No caso vertente seria caso para dizer que “nem carne nem peixe”.
Mas porque também o português está em causa –( e se analisarmos bem a questão é APENAS o português que está em causa, a matemática foi uma manobra de diversão), em português a palavra «viragem» significa mudança, pôr no sentido oposto.
A expressão que usei “viragem de 360º” tinha exactamente esse sentido – mudança total.
Porque eu entendo que, no assunto do post como em tantos outros aspectos, só lá vamos com uma viragem de 360º!
Somos exagerados? Ai pois somos. Mas há coisas que não vão lá com paninhos quentes.
Desculpe, meu querido amigo, se aparentei um “ar doutoral”. Não era minha intenção. Professoral, talvez…
Beijinhos
Mariazita

Anónimo disse...

Querida amiga

Brasil e Portugal, eu sei que você sabe, são nações amigas que se completam por sua História e pelo carinho mútuo de seus conterrâneos.

Só sinto estar bem aquém de seus conhecimentos em informática e no manuseio dessa "máquina de fazer doidos" chamada computador. Acho tudo muito lindo e admiro seu modo de estar sempre à frente do mundo moderno. Sou apenas uma professora de Língua Portuguesa e fico triste quando, atrapalhada, não consigo responder ao seu blog, principalmente face seu conteúdo preciosíssimo. Inserir alguns comentários eu faço com freqüência, mas não sei se eles chegam até você. Mas estou esforçando-me e, um dia, acharei que fui muito preocupada com o desconhecido e pela ansiedade de acertar.
Com um beijão da

Vilma

A. João Soares disse...

Ai que não estou a compreender nada!!!!
Se rodar 90 graus vira à direita ou à esquerda. Se rodar outros 90 graus no mesmo sentido, vira ao todo 180 graus e passa a marchar em sentido contrário, «no sentido oposto», como diz.
Se for no sentido Almada Lisboa, e
fizer uma inversão de marcha só roda 180 graus, se fizer essa manobra duas vezes, vira 360 graus e fica no sentido de marcha inicial, para Lisboa.
Sendo o seu marido militar, pergunte-lhe qual a rotação em graus que faz quando cumpre a ordem de «direita volver» e quando se trata de «meia volta volver».

E recuso-me a continuar a debater esta sua dúvida!!!

Beijos
A. João Soares

Anónimo disse...

Querida Mariazita
Muito fixe o teu blog. Adorei! PARABÉNS!

Virei visitá-lo mais vezes e recomendar aos meus amigos.

Andei muito ocupada a preparar reuniões pois tive de ir para Lisboa no fim-de-semana. Sabes como é, sem trabalho nada feito!

Tenho de ver como posso fazer comentário no teu blog sem ser como anónimo, pois parece que tenho de ter algo ou tenho de me registar em algum local.

Com tempo verei isso.

O teu blog fez -me lembrar o sonho de ter o meu próprio espaço…. quem sabe um dia.

Felicidades e mais uma vez Parabéns.

Beijinhos
Luisa

Rafeiro Perfumado disse...

Olá, Mariazita.

Este assunto não me é indiferente uma vez que tenho familiares professores. No entanto, consigo ter o distanciamento necessário para ver que o grande problema aqui me parece ser a falta de diálogo, o que faz com que se tomem medidas avulsas, unilaterais, por vezes a roçar o autoritarismo e a prepotência. Talvez um dia todas as partes se sentem e discutam duma forma franca e aberta o destino a dar à educação do nosso país. Até lá, que continue o circo...

Mariazita disse...

Querida Vilma
Diz que “Sou apenas uma professora…” . Isso é coisa que se diga??? Eu tenho várias professoras na família – uma filha, uma irmã, cunhada, sobrinhas, primas…e tenho muito orgulho nisso. Tal como tenho muito orgulho na sua amizade.
Não se esqueça que é aos professores que se devem "os filhos da Nação". Todos eles começaram por ter professores, doutro modo seriam analfabetos...
Não se sinta aterrorizada com o computador! Não faltará muito tempo para considerá-lo um brinquedo muito atraente...:))))
Só precisa de praticar.
E como tem uma conta gmail, só precisa saber a sua password para não usar o anonimato.
Hei-de mandar-lhe informação por email.
Beijocas
Mariazita

Mariazita disse...

Luísa, querida...
Que surpresa boa "ver-te" por aqui!
Sabendo como é a tua vida, sempre a correr dum lado para o outro, ainda mais aprecio e agradeço a tua visita.
Para fazeres comentários sem ser como anónimo tens que ter uma conta gmail, e não esqueceres a password...o melhor é escreveres em local seguro, porque a tua cabecinha não pode dar para tudo!
Volta sempre. É um presente para mim partilhar contigo esta minha "casa"
Um beijinho do tamanho do mundo!
Mariazita

Paula disse...

Querida Mãe
Muito obrigada pelo apoio que tens dado e continuas a dar a esta nossa luta.
Os professores têm sido muito maltratados, precisam de quem os defenda.
As denúncias e artigos de opinião que tens aqui publicado são uma forma de ajuda que pode ser preciosa.
Tenho pena de não deixar comentários mais vezes, mas sabes como tenho o tempo todo preenchido.
Venho sempre ler o que publicas, a maior parte das vezes de fugida, mas o tempo não dá para mais, desculpa.
Um grande beijo da filha que te adora
Paula

Mariazita disse...

Olá Rafeiro.
Que perfume bom ficou aqui na minha casa! Tens que vir mais vezes, para se manter sempre assim cheirosa... :)))
Como em todos os problemas, meu amigo, a falta de diálogo é causadora dos maiores atritos.
Talvez eu não consiga ser totalmente imparcial ao analisar este tema, mas parece-me que a abertura ao diálogo tem que partir de cima, de quem detém o poder, seja governo, empresário, qualquer "empregador", até a simples dona de casa perante a sua empregada.
E neste caso concreto não tem havido, de facto, abertura ao diálogo.
Pode ser que as coisas, agora, comecem a melhorar...
Obrigada por teres vindo. Brevemente irei ver-te na tua "casota".
Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

Olá, minha filha
Sempre pudeste contar com o meu apoio, e assim continuará a ser.
Neste caso concreto não é só a ti que procuro mostrar solidariedade, mas a todos aqueles que lutam por causas justas. (como esta me parece ser)
Gosto que venhas aqui, e claro que gostaria que assilanasses a tua passagem mais vezes. Mas, quem melhor do que eu para saber que não o fazes apenas por falta de tempo ???
Daqui por 50 anos, quando estiveres reformada...já tens tempo para tudo.
Beijoquinhas
Mãe

Anónimo disse...

Uma viragem de 360 graus?????
Ah! Ah! Ah!
Então é para ficar tudo na mesma!!!!!!!
Também não é de estranhar... é o costume!!!

Beatriz Bragança disse...

Querida Mariazita
Os professores merecem todo o respeito e devem ter quem, «realmente» os defenda, o que não tem vindo a acontecer.
Este artigo tem cerca de 10 anos e, à distância, todos sabemos muito melhor quem era esta Ministra- Maria de Lurdes.Como foi possível???!!!
Estes cargos deveriam ser ocupados por pessoas muito conscientes, sábias e responsáveis. Infelizmente ...nem sempre isto acontece!
Excelente artigo! Continue, querida amiga e muitos professores lhe agradecerão. Todas as vozes são poucas para defender esta classe tão maltratada.
Um beijinho
Beatriz